Quando um amigo querido não está bem, normalmente temos o impulso de ajudá-lo. Buscamos acolher seus sentimentos, usar um tom de voz suave e nossas melhores palavras. Já quando se trata de nós mesmos e de algum sofrimento, sentimento de inadequação ou de falha que vivenciamos, tendemos a nos tratar diferente. Costumamos acionar nossa autocrítica e um tom de voz interno mais áspero. Muitas vezes temos o impulso de nos culpar, julgar ou de nos colocar para baixo.
Fomos educados em uma sociedade competitiva na qual achamos que precisamos sempre estar bem, sermos produtivos, bem-sucedidos e perfeitos, nos comparando com os outros. Crescemos acostumados com esta maneira mais dura de responder a nós mesmos, que se reflete nas mais diversas esferas da nossa vida. E no trabalho não é diferente. É claro que no ambiente profissional podem existir fatores externos como cobrança, excesso de trabalho, competição e má liderança, por exemplo. Mas nós muitas vezes extrapolamos nossos limites e nos colocamos uma grande pressão baseada nessa ilusão da busca pela perfeição. E isso cansa, e muito.
A autocompaixão foi tema do meu mestrado e, desde então continuei meus estudos, buscando colocá-la em prática também por uma demanda interna pessoal. Uma frase que me marcou neste processo foi”: “O perfeccionismo não é a busca pelo melhor, mas a perseguição pelo pior de nós mesmos”, de Julia Cameron. Entendi que, enquanto estivermos pouco atentos e conscientes de nós mesmos e de nossos limites e necessidades ou então nesta busca desenfreada por dar conta de tudo, nos tratando com julgamento e excesso de autocrítica, estaremos sujeitos ao esgotamento.
Vemos a síndrome de burnout cada vez mais frequente nos dias atuais e, enquanto anos atrás ela se associava mais ao meio da saúde, hoje ela já se apresenta nos mais diversos contextos profissionais. E, a busca por ferramentas de gestão de estresse e pelo cultivo de habilidades socioemocionais entre os líderes atentos a esta questão e os profissionais a procura de maior autoconhecimento e bem-estar nunca esteve tão forte.
No meu caso, minha principal experiência se deu com profissionais da saúde, no ambiente hospitalar, aonde atuei por mais de 10 anos. Ao longo desse período, presenciei (e cheguei bem perto de experimentar) o burnout. E identifiquei lá, a necessidade de me aprofundar ainda mais no uso destas técnicas e ferramentas e de levá-las para aqueles que se encontravam no limite ou que viram seus colegas passarem por isto.