A crise política, econômica, social e de saúde sem precedentes pela qual estamos passando está nos obrigando a refletir sobre várias questões: como chegamos na situação atual? O que precisamos fazer para ultrapassá-la? Que comportamentos e decisões geraram esta situação de vulnerabilidade extrema? Quais os aprendizados individuais e coletivos que precisamos fazer?
A partir desta nova realidade verificamos quão frágeis são as instituições e governos que deveriam gerenciar as ameaças atuais e contribuir para o bem estar coletivo. Esta fragilidade ficou evidente em situações críticas do passado recente, mas apenas agora, quando estamos sendo ameaçados de maneira sistêmica, afetando nosso sistema de saúde, economia, segurança pública, trabalho/emprego, etc., é que estamos ganhando consciência do nosso nível de despreparo, tanto individual quanto coletivo, para lidarmos com uma crise destas proporções, e que não pode ser contida por medidas sintomáticas de curto-prazo.
Richard Barrett, um dos maiores especialistas em valores humanos, organizacionais e sociais da atualidade, escreveu no seu livro sobre liderança que “a crise econômica de 2008 foi um precursor da eventual quebra de um paradigma econômico insustentável que ameaça a sustentabilidade global da sociedade humana”. De forma premonitória ele afirmou: “as deficiências do nosso sistema financeiro – conjuntamente com as mudanças climáticas, terrorismo global e o aumento do risco de pandemias globais – está não apenas testando de forma severa a resiliência e adaptabilidade dos nossos negócios, está também testando a resiliência e adaptabilidade de nossa sociedade global”. E finaliza seu comentário da seguinte forma: “se queremos sobreviver e prosperar coletivamente, nossos líderes políticos e de negócios precisam aprender como construir culturas fortes e adaptativas. Precisamos colocar nossas diferenças de lado e focar no bem comum coletivo”.
Quando olhamos como muitos líderes políticos e de negócios estão lidando com os desafios atuais, verificamos que infelizmente eles não tem consciência da responsabilidade de seus cargos, não foram ensinados a tomar decisões com base no bem comum e desconhecem como gerenciar sistemas com o nível de complexidade e interdependência do contexto econômico, político e social atual. A maioria dos líderes foi treinada no modelo “comando-e-controle”, que foca na centralização das decisões, comunicação “de cima para baixo” e na hierarquia rígida. O aspecto sombra ou limitante deste modelo é que ele incentiva a tomada de decisão de curto-prazo que incentiva o retorno rápido sobre o capital, sem preocupação com as consequências negativas sobre o ambiente de trabalho e as relações com stakeholders externos. No nível pessoal, incentiva o foco do líder em seu interesse próprio a partir de comportamentos que beneficiem suas carreiras, benefícios financeiros e fortalecimento do poder/status. Como comentou Bill George, ex-CEO da Medtronics e professor de liderança da Universidade de Harvard, “um enorme vácuo de liderança existe atualmente – nos negócios, na política, nos governos, na educação e mesmo na religião...a questão é que temos uma noção equivocada do que constitui ser um líder, influenciada por uma obsessão pela liderança no topo. Este conceito equivocado geralmente tem como resultado pessoas erradas assumindo posições críticas de liderança”.