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Edição #72 - Maio 2019

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O que aprendi na interação com grupos indígenas?

  1. O contexto

Durante um ano, tive oportunidade de atuar como facilitador de processos para uma iniciativa pioneira em Mato Grosso: o Programa REM/MT. Para que todos os 43 povos indígenas do estado pudessem ser informados sobre o Programa e definissem, concretamente, suas prioridades e os modos mais adequados de aplicação e gestão dos recursos, o governo estadual realizou uma consulta livre, prévia e informada - como preconiza a Convenção 169 da OIT (Organização Internacional do Trabalho) - em parceria com a sociedade civil e protagonizada pela FEPOIMT (Federação dos Povos e Organizações Indígenas de Mato Grosso).

Foi a primeira vez que uma política desse tipo foi construída diretamente pelos povos indígenas em Mato Grosso. E, constatando como não só é possível, mas necessário e valioso para o processo de implementação de projetos quando a elaboração coletiva das propostas envolve o outro-diferente-de-mim e legitima a diversidade real que a vida-lá-fora-da-bolha nos oferece, esse fato, por si só, já seria motivo suficiente para celebrarmos.

No entanto, há muitos outros motivos para co-memorarmos esse processo, isto é, para lembrarmos juntos o que foi feito, aproveitando o aprendizado ao lidarmos com o outro-diferente, com grupos-plurais, com política. Para isso, proponho considerarmos o horizonte mais amplo de formação da cultura organizacional pelas lideranças indígenas a partir de 5 atitudes, que observei serem ensinadas silenciosamente, pelo exemplo e pela prática: Recepcionar, Regenerar, Redundar, Restaurar e Recordar.

Sintetizei assim esse aprendizado porque, segundo diversos autores (SCHEIN, 2009; BARRETT, 2009; LALOUX, 2017; WAHL, 2019), as atitudes são um sinal de que valores que se convertem em práticas partilhadas podem emergir e ser reconhecidas como a cultura desse coletivo. Reconhecer essa estrutura-geral pode, portanto, ser útil tanto na atuação do(a) facilitador(a) de grupos como no estudo das diferentes culturas organizacionais, isto é, na identificação do que Schein (2009) definiu como

o conjunto de pressupostos básicos que um grupo inventou, descobriu ou desenvolveu ao aprender como lidar com os problemas de adaptação externa e integração interna e que funcionaram bem o suficiente para serem considerados válidos e ensinados a novos membros como a forma correta de perceber, pensar e sentir, em relação a esses problemas.

  1. Recepcionar: a liderança anfitriã

Durante esse processo, as lideranças indígenas sabiamente tomaram para si a tripla tarefa, própria de diplomatas, de anfitriar umas às outras, de manter sua autoridade para que seu povo fosse adequadamente hospedado (isto é, para que as propostas desse povo fossem acolhidas) e de abrigar seu povo dentro de si mesmas, como legítimas representantes. Concordando então como a descrição de Clastres (2004), percebi que, nesses grupos indígenas, "os que são chamados líderes são desprovidos de todo poder, a chefia institui-se no exterior do exercício do poder político". Notei ainda que as lideranças indígenas falavam em nome de sua comunidade somente "quando circunstâncias e acontecimentos a colocam em relação [de amizade ou de inimizade] com os outros", mas sem "nunca tomar decisões em seu nome, para depois impô-las à comunidade". Era essa atitude que lhes garantia prestígio, "muito comumente confundido, e sem razão, com poder".

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