Neste momento do dossiê, como escrevi no texto anterior, você pode estar se perguntando: “OK! Mas COMO eu faço isso? Como mudo este contexto, esta cultura?”
Bob Dunham, na sua maestria, nos diz que uma cultura é composta pelo conjunto de práticas de uma determinada comunidade. Desta forma, para mudarmos de uma cultura de escassez e extravagância para uma cultura de abundância, devemos adotar novas práticas. Por exemplo, para a Liderança Generativa, ação não é movimento, mas sim compromisso. Esta nova prática, agir a partir do compromisso, é um mundo muito diferente. Você cria um novo observador da realidade, e com isso, você cria novas escolhas e novas ações. A partir deste observador, você começa a ter uma visão de mundo diferente, com habilidades e práticas diferentes. O observador mudando o ator e a sua visão de mundo. E vice-versa.
Na nossa exploração, principalmente nas conversas com nossos entrevistados, identificamos algumas destas possíveis práticas, que gostaríamos de compartilhar com vocês.
1. Comece por você
Antes de mais nada, precisamos entender que o espaço do Mundo e o espaço do Nós são definidos pelo espaço do Eu. Se quisermos mudar o Mundo ou mudar o que está acontecendo no espaço do Nós, temos que olhar primeiro para o Eu. A mudança sempre começa no espaço do Eu. É muito mais fácil e superficial colocar a responsabilidade no outro ou no mundo. Mas e você? Estamos aqui falando de auto-conhecimento e autorresponsabilidade. E sim, na pessoa física: comece por você.
2. Identifique que você vive em histórias
Como comentamos nos textos anteriores, o que identificamos no espaço do Mundo é uma história, uma narrativa. O que se passa no espaço do Nós também é uma história. E ela molda e é moldada pelo observador que somos. Que, por sua vez, também é uma história, uma narrativa. Portanto, esta segunda prática propõe que você reconheça a partir de quais histórias tem vivido, reconheça o observador da realidade que você é.
Bob nos traz: “Isso é um ato essencial sobre assumir a responsabilidade por minhas histórias, e o que estou escolhendo viver. Perceber que histórias são histórias, e que nunca são a única história. Elas são do passado, e se conectarmos ao nosso ser generativo, podemos ver que, por ser uma história, posso escolher viver a partir dela ou não. Posso escolher, posso assumir a responsabilidade de ser o autor e não a vítima. Eu posso reescrever minha história. Isso é abundância! A jornada de vida de todos é uma chance de recuperar esse poder de ir além da velha história para projetar, abraçar, adotar e incorporar uma nova história. A história sobre o que é ser humano nos dá a oportunidade de nos livrarmos da narrativa, por exemplo, do ‘eu tenho que ser perfeito’, porque ter que ser perfeito é uma história desumana. Nenhum ser humano é perfeito, no sentido de fazer tudo como ‘tem que ser ou deveria ser feito’. Isso também é uma história. E assim começamos a ver que algumas histórias antigas que geram sofrimento são narrativas que podemos deixar de lado e inventar uma nova história. Por exemplo, passei a minha vida inteira fazendo as coisas buscando a perfeição. Até que um dia, me dei conta que esta história (a de que “tenho que ser perfeita”), estava conectada a uma questão de pertencer. Ao meu dar conta de que era somente uma história, pude olhar com muita compaixão para esta narrativa, e conectar ao impacto que isso tinha na minha vida. Pude ver, então, por exemplo, a diferença que seria escolher fazer as coisas da melhor forma possível, com compromisso, ao invés de “buscar fazer tudo perfeito para pertencer”. Um viver totalmente diferente!
3. Reconheça que você tem escolhas
Conectamos à abundância quando começamos a mudar as narrativas no espaço do Eu (em mim) também sobre as escolhas que tenho. Eu posso me tornar consciente destas escolhas, e, como nos diz Bob, ‘awareness creates choice’ (consciência gera, cria escolha). A partir de estar consciente, gero, crio escolhas.
“Eu amo a história da filosofia chinesa de que o ser humano é a criatura que conecta o Céu e a Terra. O trabalho que fazemos como seres humanos é que tomamos possibilidades e, por meio de nossas ações, produzimos manifestações concretas no mundo”, comenta Bob Dunham.