É importante reconhecermos os processos de aprendizagem como um dos grandes temas sobre o qual precisamos nos debruçar na tentativa de entendermos seus efeitos em nossa contemporaneidade, marcada pela intolerância, discursos de ódio e disputas de narrativas pela construção de uma verdade única. O tema pede especial atenção neste momento histórico-político brasileiro, no qual a educação tem sido alvo de disputas ideológicas que, paradoxalmente, tentam negar e ocultar seu caráter ideológico.
Negar o diverso, o diferente e não reconhecer a legitimidade do outro, diferente-de-mim, é a tônica atual, porém, esse modo de pensar tem sido construído lenta e invisivelmente por nossa cultura há anos, com a negação do outro como verdadeiro outro na convivência.
Nosso foco é olhar para os processos de aprendizagem como processos relacionais do viver e, com essa visão, podemos reconhecer seu caráter imprevisível, ao mesmo tempo que nos convoca a elaborarmos intervenções que favoreçam o desenvolvimento individual e coletivo nos meios onde atuamos.
Em seu artigo “Aprendizagem ou Deriva Ontogênica”, que consideramos um dos textos mais relevantes sobre o tema da aprendizagem, Humberto Maturana mostra duas perspectivas distintas daquilo que usualmente nomeia-se por aprendizagem, apontando que fará uso de uma delas.
Uma das maneiras pela qual se entende os processos de aprendizagem é aquela em que se considera o meio como algo que está fora do indivíduo e que lhe informa sobre quais os comportamentos adequados à cada situação. Dessa forma, o indivíduo guardaria essas representações em sua memória, formando um repertório de comportamentos para responder às contingências do mundo. Ou seja, o mundo, o meio e o ambiente forneceriam as instruções necessárias que permitiriam ao indivíduo adequar-se a eles.
Para elucidar essa maneira de entender a aprendizagem, vamos tomar como exemplo um processo de educação corporativa, tema sobre o qual temos nos debruçado cheios de inquietações. Em muitos treinamentos são usadas técnicas em que os participantes são convidados a representar papéis em uma cena. Por sua vez, essa cena reproduziria o que é exigido deste profissional no exercício de suas funções, como, por exemplo, o desligamento de um colaborador. Nesta técnica de encenação, um participante seria o encarregado pelo desligamento e um outro aquele que seria desligado. Depois da encenação efetuada, os responsáveis pelo treinamento dão o feedback sobre a efetividade do desempenho do participante que efetuou o desligamento, apontando pontos de melhoria em seu comportamento. Os participantes, então, guardariam em sua memória as “melhores práticas” para o desligamento de um colaborador, a partir da vivência e observação da encenação e do respectivo feedback.