Muito do que estaremos examinando aqui, neste breve artigo, vem da concepção e da metodologia de diálogo elaboradas pelo físico quântico e colaborador de Einstein, David Bohm, inspirado em ideias e encontros que teve com Krishnamurti, o grande sábio indiano que viveu boa parte da vida ensinando sobre a libertação do homem e que faleceu em 1986.
A palavra Diálogo é de uso corrente; já a usamos muitas e muitas vezes na vida, quando queremos nos referir a uma situação em que pelo menos duas pessoas entram num tipo de conversação em que de fato há uma troca entre elas. Falamos em “diálogo amoroso”, por exemplo. Mas a ideia de que diálogo é algo que aconteça entre duas pessoas é imprecisa, embora pareça sustentada pelo prefixo dia, da palavra diálogo. Entretanto, dia, em grego, não quer dizer dois, mas sim através de. E logos quer dizer sentido, palavra. Assim, o significado etimológico preciso da palavra diálogo é: quando um significado perpassa, passa através de alguém ou de um grupo.
Dessa maneira, a situação de diálogo está essencialmente ligada ao compartilhamento. Mais exatamente, ligada ao compartilhamento de significado: quando podemos compartilhar experiências e o que elas dizem para nós, quando falamos e os outros compreendem, e não somente escutam, quando sentimos que se forma uma espécie de “pensar ou agir grupal”, estamos em uma situação de diálogo. Podemos também entrar em diálogo com nós mesmos, quando uma situação evoca diferentes sentimentos ou reações e é preciso incluí-las todas num todo que possamos aprender. Não é essencial, é importante reparar que nesse compartilhamento haja concordância, ou consenso; o compartilhamento está mais ligado à participação, ao escutar o outro e dar-lhe espaço, do que concordar com ele. Mas voltaremos um pouco mais tarde a isto. Apenas achei importante mencionar esse aspecto aqui para que não se pense que no diálogo há uma situação de confluência (todos pensando igual), de uniformização do pensamento.
O diálogo é o oposto da discussão. A palavra discussão, assim como a palavra debate, tem a mesma raiz que percussão, concussão: quebrar. Quando discutimos, num grupo, há disputa entre significados, para ver o que prevalece – não se busca chegar a uma compreensão maior. Muitas vezes, numa discussão, vence o mais violento, ou o mais astucioso, e não o melhor ou mais profundo. No entanto, embora dito dessa maneira, possa parecer que a discussão é um processo negativo, ou ao menos mais negativo do que o do diálogo, isso não é sempre verdade. Para certos procedimentos, bem como tomadas de decisão, é preciso encontrar a melhor solução, e é possível que ela exclua completamente outras alternativas. É o caso, por exemplo, de decidir se uma pessoa que se acidentou deve ou não ser levada ao pronto-socorro; se alguém tem crenças a respeito de isto ser bom ou não, sobre se é importante este ou aquele tipo de medicina, etc. É essencial oferecer todo o cuidado possível à pessoa, e isso exclui outras considerações filosóficas ou crenças.
Mas dialogar é completamente diferente de debater. Quando há um diálogo, ninguém quer vencer. Este não é o objetivo. Quando um erra, todos aprendem; quando um acerta, todos ganham. O protagonista, aquele que tem o papel principal no conflito, é tomado exatamente como aquele que expressa um conflito que não é só dele: é do homem, do ser humano, daquele grupo. Se ele o expressa bem, então todos podemos buscar, juntos, uma possível solução, ou, se isso for impossível, passar juntos pelas dificuldades do momento. Quando um grupo entra em clima de discussão, a não ser que ela seja necessária como ferramenta, o que se quer é bater contra o outro, derrotá-lo, prevalecer sobre ou quase sempre, sem apreciar adequadamente os méritos da questão. Discussões muitas vezes não são mais do que palco para a disputa pessoal, pela briga pelo poder.