Nossa coach Maria nos traz o seguinte caso: estou angustiada com o que tenho visto nas organizações nas quais conduzo processos de coaching executivo! As culturas dessas empresas são cruéis: máquinas de moer gente e fábricas de burnout. As demandas das empresas patrocinadoras são por produtividade e sou contratada para cuidar da “saúde mental” de meus clientes. É como enxugar gelo. O que fazer se não há nada a fazer?
Cara Maria, seu desabafo é tocante e aponta para um fenômeno contemporâneo que, infelizmente, é bastante comum. As pessoas são tidas como as únicas responsáveis por suas trajetórias profissionais e pessoais, sem que se considerem os aspectos sociais que são determinantes para que sejamos quem somos e para que conquistemos nossos êxitos.
O psicólogo social Ignácio Martin-Baró (2007) alerta que numa visão funcionalista, o indivíduo deve se adaptar à estrutura social. Essa estrutura é tida como dada e não se questiona se deve mudar. Acreditar que a pessoa é a única responsável por seu destino é uma perspectiva determinista e reducionista, que coloca toda a responsabilidade no indivíduo, sem examinar o contexto no qual os indivíduos estão inseridos, sem questionar a relação indivíduo e as circunstâncias que o cercam. A responsabilização do indivíduo por sua sina é uma estratégia que deixa as estruturas protegidas de qualquer transformação social.