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Edição #72 - Maio 2019

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Um relato sobre o surgimento de um encontro de homens sobre masculinidades: das inquietações às transformações

A intenção desse breve texto é relatar o surgimento de um encontro exclusivamente de homens para pensar o tema das masculinidades em suas vidas. A ideia é olhar por um caminho entre tantos outros e não é, e nem seria possível, dizer como um grupo dessa natureza deve ser. Comecei a me interessar pelo tema das masculinidades por uma demanda profissional. Sou psicólogo de formação e psicoterapeuta com minha trajetória na psicologia social e na saúde mental. Comecei a notar em minha prática clínica que alguns homens em seus processos terapêuticos percebiam que parte de suas angústias envolviam uma luta com uma identidade que já não fazia tanto sentido, onde uma masculinidade convencional e estereotipada (podemos reconhecer no conceito de masculinidade tóxica alguns desses elementos: ignorar sentimentos, culto à violência, sexualidade falocêntrica, idealização de atividades masculinas, intolerância à diversidade, superioridade masculina, etc) deixava de ser atraente, porém eles não tinham a menor ideia em como ser diferentes.

Muitos eram incapazes de dizer exatamente o que buscavam, mas revelavam um enorme esgotamento físico e emocional e sabiam que o caminho que trilhavam em suas vidas se dirigia para algo que valesse a pena continuar. Eles tinham a convicção que a vida que levavam como homens precisa ser revista. Em alguma medida me via refletido nos dramas de meus pacientes, afinal eu também era um homem com muitas perspectivas convencionais, e buscava em meus processos de auto-conhecimento superar algumas inquietações de uma masculinidade que no fundo me limitava e me constrangia. Fui entendendo que a vida dos homens é em boa medida governada pelo medo. As vezes medos objetivos e pontuais, dado em contextos concretos e explícitos, mas também alguns mais abstratos e confusos envolvendo idealização de desempenhos, expectativas inatingíveis e projeções angustiantes sobre o que “deveriam ou poderiam”.

Isso me fez buscar por informações sobre atividades com homens e possíveis experiências tanto individuais como coletivas, mas que sempre consideravam primordial essa revisão dos papeis sociais e intencionavam uma desconstrução de muitas convenções conservadoras, mas com proposições mais reflexivas em busca de outros comportamentos e sentidos. Conheci inúmeras rodas de homens, encontros terapêuticos para homens, lugares de formação política sobre gênero para homens, encontros espiritualistas e religiosos apenas entre homens, ações sobre paternidade, grupos reflexivos de homens agressores, etc. Muitas dessas iniciativas eram encontros pontuais, de ações que duravam poucas horas e não se tinha certeza do impacto disso para os participantes, já que o grupo não voltava a se reunir. Outros grupos trabalhavam com certa frequência e se reuniam periodicamente por um número determinado de vezes, dependendo do objetivo a ser desenvolvido.

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