“O papel de um agente de mudanças – como um consultor ou coach - é acompanhar indivíduos em suas jornadas individuais de descoberta”.
Kets De Vries
Enquanto coaches, somos desafiados a atender – ou a não atender – algumas demandas que são verdadeiras “saias justas”. Apesar de complicados, são estes momentos também que destacam os profissionais realmente prontos e qualificados para atuar como um coach executivo, uma vez que respostas e soluções rasas ou mágicas não pertencem a este universo.
O coaching executivo demanda do coach uma grande capacidade de ler e compreender o cenário, o momento e a cultura, mantendo a mente aberta, além de ser capaz de lidar equanimemente com figuras de poder e autoridade. Isso porque é imprescindível, por vezes, confrontar e oferecer respeitosa e firmemente seu feedback honesto a executivos que não estão habituados a serem confrontados.
Um presidente de uma empresa de médio porte, que chamaremos de Sr. Moacir Ramos (54), solicitou pessoalmente um processo de coaching executivo para o qual pediu absoluto sigilo. Em sua demanda, relatou que precisava de um profissional capaz de oferecer um feedback honesto - o que, enquanto presidente da empresa, acreditava jamais ter recebido. Ainda lamentou: “As pessoas me ’bajulam’, mentem para obter minha atenção. Eu não tenho com quem contar, não posso perguntar ou pedir ajuda a ninguém, pois isto poderia me enfraquecer diante das pessoas”. Um trabalho sob medida para o coaching executivo!
Um bom feedback deve ser capaz de nos fornecer informações sobre a conexão entre o que pensamos, dizemos e fazemos, ou seja, entre nossas intenções e como são percebidas nossas ações. Assim, coube ao tempo e às confrontações apresentadas no processo revelar se este era, de fato, o objetivo do nosso executivo ou, por outro lado, se seu relato era apenas uma questão retórica, um input inicial – o que também era possível para ele, naquele momento.
Há algumas hipóteses de trabalho a serem consideradas dentro de qualquer processo de coaching executivo, sendo fundamental que o coach faça uma cuidadosa investigação junto ao coachee a respeito de possíveis outras motivações que o levaram a buscar o processo, as quais podem, inicialmente, escapar inclusive ao próprio coachee. Estaria Moacir movido por um desejo de receber feedback honesto ou suas impressões decorreriam de uma desconfiança generalizada em sua equipe?
Já nos primeiros encontros, em face a uma confrontação respeitosa, o executivo apresentou como reação um comportamento violento, autoritário e arrogante, desqualificando a intervenção do coach. Felizmente, o que se viu a seguir foi um exercício de espelhamento cuidadoso e competente, que resultou em uma ampliação de olhar, assunção de responsabilidades por parte do executivo e, por conseguinte, um estreitamento da relação de confiança entre coach e coachee.