Ganhador do prêmio de melhor roteiro, melhor ator em Cannes e do Oscar de melhor filme estrangeiro em 2017, “O Apartamento” é um impactante filme iraniano, do diretor Asghar Farhadi, que tem se destacado pelas reflexões sobre a cultura e a sociedade de seu país. Ele conta a história de um casal profundamente afetado por um acontecimento que, além de dizer respeito aos direitos e à intimidade da mulher, é fruto da cultura na qual eles – e nós - estão inseridos.
Em uma das cenas emblemáticas do filme, o personagem principal, Amad, é questionado por um aluno sobre um livro de Gholam-Hossein Sa’edi (escritor iraniano), sobre como um homem se transforma em uma vaca, pergunta para a qual se segue a brilhante resposta: aos poucos.
O que salta aos olhos nesse momento é a forma como pessoas e culturas vão se transformando, num contínuo devir, não exatamente ou necessariamente no que desejam, planejam ou intencionam. É o que ocorre de forma invisível, imperceptível em um curto espaço de tempo, e que ao mesmo tempo é repetido sistematicamente, que gera consistência, cava sulcos.