Não é sinal de saúde estar bem adaptado a uma sociedade doente.
Jiddu Krishnamurti
E hoje é dia de check-up - de novo! A segunda e última etapa.
Como sempre, o hall de entrada do laboratório está bem cheio. Dez minutinhos de espera e finalmente chega sua vez.
O porteiro pergunta seu nome, pede seu RG, e fala pra você olhar pra câmera. Você passa a mão pelos cabelos, disfarçadamente leva o indicador à língua, e, fingindo que está jogando a franja pra trás, passa o dedo úmido na sobrancelha. Independente da ocasião, você quer sair bem na foto. Mesmo que seja a do cadastro do edifício Adolpho Helbert II. Ele pede prá você dar um sorrisinho. Com dificuldade de encontrar um motivo prá sorrir, por estar com aquele gosto amargo de jejum na boca, típico de cliente-que-resolveu-seus-problemas-na-sessão-bônus-agradeceu-e-sumiu, você saca o celular do bolso e, sorrateiramente, abre o App “GratPlus” para dar uma “colada” no seu diário de gratidão. Lê logo na primeira linha: “sou grato por viver a minha missão de ajudar pessoas.” Você esboça um sorriso amarelo. Afinal, não anda conseguindo encontrar pessoas que queiram ser ajudadas nem de graça. Ele clica, e te entrega o crachá de visitante.
Com seu crachá-passaporte em mãos, faz sua caminhada ao estilo Lulu (a passos de formiga e sem vontade).
Já no andar do laboratório, uma enfermeira com cara de poucos amigos o recebe e o encaminha à sala de espera. Há muitas pessoas esperando por ali. Algumas até já sem esperança. Você se segura para não começar a fazer uma palestra motivacional ou uma sessão levanta-astral ali no meio de todos. Graças aos céus, seu crítico interno estava de plantão, pois logo em seguida, chega a sua vez e seu nome é chamado.