Recentemente, em um curso de formação, foi pedido aos participantes que, em poucas palavras, definissem o que significava Coaching para eles. Dentre as definições apresentadas, uma me chamou atenção especial, até porque apareceu de forma recorrente durante o curso: “Coaching é o processo que ajuda a transformar sonhos em realidade”.
Interessante porque enquanto técnica, o Coaching pode ser conceituado como um processo de desenvolvimento pleno que auxilia o coachee a atingir seus objetivos, metas, sonhos e desejos, tanto profissionais quanto pessoais.
Se considerarmos que, em um primeiro momento, algumas pessoas esperam que o coach lhes diga o que fazer e qual caminho seguir, é relevante refletir sobre essa questão: O coach ajuda a realizar sonhos... mas sonhos de quem?
Quem atua como coach já deve ter experimentado a “coceirinha” de mostrar o caminho, dar a resposta, apontar aquilo que para nós é tão claro e cristalino, mas que o coachee ainda não consegue enxergar; enfim, de dizer a ele o que nós achamos que é o melhor para ele, ou pior, projetar no coachee os nossos sonhos e expectativas.
Isso sem contar que em cada processo que iniciamos, colocamos nossas expectativas de sucesso. Como lidar com nossa frustração ao perceber que o caminho que entendemos ser o melhor para o coachee é o oposto daquele que ele decidiu seguir?
Um processo de Coaching pode ser interrompido. O coachee pode não estar pronto para mudanças, pode estar equivocado quanto ao que realmente quer; não é incomum o processo iniciar com base em um objetivo e no decorrer dos encontros, mudar radicalmente. Em alguns casos, o coachee precisa de um processo terapêutico, em outras ele quer somente alguém para conversar. O que fazer então?
Sabemos que nestes casos o Coaching não será efetivo e o melhor será interromper o processo e dar o encaminhamento mais adequado ao caso: terapia, aconselhamento, etc. E como ficam nossos sonhos de ser um coach de sucesso?
É importante lembrar que durante o processo de Coaching, nos cabe o papel de ouvintes atentos e de “perguntantes”, isso é, utilizamos perguntas instigantes que ajudarão o coachee a “dar a luz” (utilizando o termo original socrático) a novas ideias, atitudes, comportamentos que permitirão sua efetiva mudança e, consequentemente, o levarão a alcançar seus objetivos e realizar seus sonhos.
O coach não dirá ao coachee o que ele tem que fazer. Seu papel é de orientação, oferecendo oportunidade de autoconhecimento, ajudando a encontrar seu próprio caminho, sem imposições.
É preciso estar atento para não impor sua visão e suas estratégias, para permitir que o coachee escolha suas próprias soluções, tome suas próprias decisões. O coach é aquele que apóia, acolhe, respeita, entende, aceita e potencializa.
Desta forma, o processo de Coaching é enriquecido, pois ao perceber-se claramente, entender seus pontos fortes, suas dificuldades, escolher suas ações, projetar seu caminho e cumprir metas que ele mesmo traçou, o coachee se fortalece, ganha autoconfiança, segurança e autoestima, sente-se valorizado e respeitado e ultrapassa barreiras, que até então, julgava intransponíveis.
Como superar a forte tentação de interferir no processo de aprendizado do outro?
Quando lidamos com uma criança pequena temos a tendência de “mostrar o caminho”, “ensinar como fazer certo”, “dizer o que ela deve fazer”. As crianças crescem e aprendem que alguém lhes mostrará o que fazer, e passam a buscar isso no gestor, no companheiro(a), amigos, terapeutas, professores e no coach também.
Muitas pessoas procuram o processo de Coaching pensando em receber todas as respostas. Aí mora o perigo, temos que estar atentos para não pervertermos nosso papel de “escutadores” e “perguntadores”; para vencermos a tentação de dar as respostas prontas ao invés de colhê-las no fértil campo dos talentos e capacidades do coachee; de permitirmos que ele descubra sua força e capacidade, permitindo a nós mesmos o alívio do peso do ter que saber sempre o que é melhor para todos.
Às vezes, durante um processo de Coaching, somos surpreendidos pelo coachee com soluções tão criativas, que sequer imaginávamos possível, ou então com mudanças tão radicais de objetivos, posturas e posicionamento frente à vida que nos deixam maravilhados com o incrível potencial e infinitas possibilidades presentes em cada ser humano. Basta deixar fluir.
“...Coaching é ajudar as pessoas a mudarem do modo que desejam, ajudá-las a ir na direção em que querem ir. O Coaching oferece suporte às pessoas em todos os níveis para que elas se tornem o que querem ser e sejam o melhor que puderem.” - Lages e O’Connor, O que é Coaching? All Print, 2007.
Namastê!
Artigo publicado em 02/03/2017