Olá, caro amigo/a leitor/a. Hoje iniciaremos uma sequência de três artigos que versarão sobre Maquiavel. O motivo que me leva a tratar Maquiavel de uma maneira distinta do tratamento concedido a outros autores nesta coluna é óbvio: Maquiavel é polêmico e é um autor que está mais próximo do nosso tempo. Por isso, tenha em mente que estas ideias necessitarão de três edições para serem concluídas. Então, mãos à obra.
Nicolau Maquiavel (1469 – 1527) é um filósofo que inaugura a modernidade e seu mérito é lançar luz sobre as relações de poder e os jogos de interesse que permeiam as relações políticas. Porém, Maquiavel em nada se parece com seus colegas que também versaram sobre política, como Platão, Agostinho, Thomas Morus, Rousseau, Karl Marx, John Rawls, entre outros. Mas você pode estar pensando: se sou coach, por qual razão eu deveria devotar meu tempo à compreensão das bases teóricas da Filosofia Política em geral e da de Maquiavel em particular? Maquiavel é um pensador que escreve sobre política, mas suas ideias reverberam na vida de cada um de nós, pois, como diz Aristóteles, somos seres que vivemos na polis, que em grego - πόλις - significa cidade. Logo, somos seres políticos, e é justamente na cidade que se desenrolam nossos dramas, muitos deles trabalhados em processos de Coaching. Fora isso, ao estudar as relações de poder, poderemos ampliar nossa capacidade para compreender aspectos relacionados às relações intersubjetivas, não somente na política partidária, mas na política familiar; organizacional; corporativa. Maquiavel não fala somente dos políticos, Maquiavel fala de você! Se há uma natureza humana, todos nós seremos, provavelmente, muito parecidos com a descrição que Maquiavel faz do ser humano em suas duas obras mais conhecidas: "Discursos sobre a primeira década de Tito Lívio" e "O Príncipe".
Ao seu tempo, sua franqueza foi um escândalo. Sua obra foi considerada herética, incitadora do mal, como se descrever o mal fosse o mesmo que incitá-lo ou desejá-lo. Mesmo hoje, suas ideias são consideradas perigosas, não porque deem conselhos de eficácia nas ações políticas que podem servir a terríveis tiranos, mas pelas consequências da sua descrição da natureza humana. A redução do homem a um ser desejante. Uma imagem feia de todos nós. Maquiavel pode ser considerado um marco histórico na oposição do discurso platônico, mas isso não significou o fim dos idealismos. O platonismo ainda vive. E é esta sobrevida que torna Maquiavel tão assustador. "Nosso senso comum acerca da natureza humana ainda é platônico." (POMPEU, 2006, p.9).