Olho e vasculho a mochila. É importante perceber o que pode estar nela sobrecarregando meus ombros, minhas pernas, minhas costas, meu coração.
Uma peregrina carrega sua mochila por todo o caminho e o que vai dentro desta mochila é um dos grandes desafios para além dos roteiros, horários, refeições, companhias, apoios. O que carregamos faz muita diferença na qualidade da caminhada. É essencial que eu tenha consciência disto: nada que eu carrego passa batido.
Desde que decidi ser uma peregrina do Caminho de Santiago lá em maio de 2000, eu venho aprendendo todos os dias o que significa ser peregrina: compreendo que tenha a ver com encontrar o que é verdadeiramente essencial.
Revisar a mochila de quando em vez é imprescindível para podermos nos livrar dos pesos extras, que por menores que sejam constituem um peso a mais e ocupam o espaço que poderia ser liberado. Ao mesmo tempo revisar a mochila pode ser revelador de espaços que podem e/ou precisam ser preenchidos para aumentar o equilíbrio e a harmonia.
Lembro-me claramente do segundo dia do Caminho de Santiago quando eu peguei um pacotinho com alguns medicamentos, suplementos, e outras coisinhas que eu achei que seriam essenciais e decidi deixar no albergue – 300g – que exagero! Que diferença faz 300g?
- Opa! Faz, para quem vai carregar por 36 dias, 6 a 8 horas por dia.
Vasculhar a mochila (da vida) e ser capaz de fazer o verdadeiro, profundo e necessário casamento entre o sim e o não: Para o que e para quem eu digo sim e para o que e para quem eu digo não?
Luciano Lannes me contou que quando pensou neste tema logo lhe veio à mente o meu nome, disse ele: quando temos (ele e a Monica, sua esposa) dúvidas sobre nos desfazermos de algo lá em casa, logo pensamos: - O que a Ana Paula faria nesta situação?
Depois que ele me contou isto eu me dei conta de quantas e quantas vezes eu fiz este movimento em minha vida. De fato, foram tantas as vezes que acabei meio que virando um meme. Gostei disto!
Ainda durante a pandemia tomei a decisão de uma nova peregrinação e desta vez eu pretendia ficar um ano ou até dois anos fora e minha “mochila” deveria ter o suficiente para eu conseguir carregar tudo que eu fosse precisar.
Comecei a nova etapa elaborando a despedida de muitas coisas que tinham muito significado para mim. De fato, significado não se perde, eu só precisava me despedir dos objetos e este foi o primeiro grande exercício.