“[Comunicar] trata-se de fazer o outro chegar perto da emoção e da força do vivido.”
Ciro Marcondes Filho (2019, p. 26)
Quando observamos a circulação do termo “comunicação” acompanhado de adjetivos que reforçam suas qualidades subjacentes, entendemos que pode haver uma ponta de denúncia e outra de reivindicação. Denúncia de uma comunicação mecânica, automática e funcionalista que, adotada em excesso e sem reflexão, a instrumentaliza e embarga suas qualidades relacionais e humanas. Reivindicação, pois especialmente neste momento em que nos comunicamos nos mundos físico e digital, com inteligências artificiais e tecnologias pautando ou sendo veículos da parte de nossas ações comunicativas, é importante não perder de vista a serviço de quê e de quem está a comunicação.
A comunicação autêntica, como expressão, está presente em diversos estudos de: Educação e Linguística (desde a década de 1970), em análises de métodos de ensino que discutem questões em torno da “naturalidade” e do “artificialismo” dos materiais e exemplos usados em sala de aula; Psicologia com foco em relações familiares; e a partir dos anos 2000 no estudo de gestão organizacional com abordagem relacional. O sociólogo francês Philippe Zarifian conceitua o termo “comunicação autêntica” como “um processo pelo qual se instaura uma compreensão recíproca e se forma um sentido compartilhado, resultando em um entendimento sobre as ações que os sujeitos envolvidos são levados a assumir juntos ou de maneira convergente” (Zarifian, 2009, p. 165). Já no contexto brasileiro, desde 2015, a comunicação autêntica passa a se conectar com o conceito e a abordagem da Comunicação Não Violenta (CNV), com a difusão do trabalho da coach e mediadora Carolina Nalon.
Entendemos este chamado à autenticidade como um pedido de inclusão (resgate) da nossa subjetividade na comunicação e, portanto, de nossa humanidade em sua complexidade no modo como interagimos conosco, com as pessoas e com a sociedade.
Partilhar e transferir são os dois caminhos de sentido que a comunicação vem trilhando de sua origem latina communicare, os quais se bifurcam em abordagens m ais dialógicas e relacionais e outras mais informacionais e instrumentalizadas (Lelo, 2016). Será que é possível chegar a um ponto de encontro entre essas acepções etimologicamente divergentes? As expressões “comunicação autêntica” e “comunicação humanizada” nos sugere que sim.