“Existem dois tipos de mudança: a que nos acontece e a que fazemos acontecer.”
Rosa Alegria
Estamos entrando numa nova era da história. Saindo de um modelo que não estava dando certo – entrando num outro que ainda está por mostrar a que veio, nos defrontamos com o mais alto grau de incerteza já vivido, inaugurado pela pandemia covid19. O contato da experiência humana com grandes rupturas como essa sempre definiu marcos históricos pontuados por começos e fins de eras. Navegando no mar das incertezas, se ainda existe um vestígio de certeza, seria essa: a de que dessa vez, temos que acertar nas escolhas, porque deverá ser a última chance que temos de seguir caminhando, mas diferente.
Dez anos antes da pandemia Covid19, o futurista paquistanês-britânico Ziaudin Sardar já tinha acenado em 2010 para um novo enquadramento teórico que define a aceleração dos tempos no artigo “Bem-vindos aos tempos pós-normais”, lastreado em pesquisas científicas desenvolvidas em 1993 pelos matemáticos Silvio Funtowicz e Jerry Ravetz. Nesse artigo, Sardar definiu a estrutura dos tempos que passou a chamar de “pós-normais”, pela observação de três fenômenos: complexidade, caos e contradição. Essa estrutura passou a servir de base científica para estudar, compreender e criar futuros, especialmente a partir de fundamentos do futurismo - disciplina transdisciplinar que estuda as mudanças para se preparar, se antecipar a elas e criar futuros desejáveis - também conhecida por foresight ou prospectiva.
A teoria da pós-normalidade procura compreender a aceleração dos tempos, então definidos como pós-normais, e o que caracteriza esse momento da transição: "um período intermediário em que velhas ortodoxias estão morrendo, novas ainda precisam nascer e muito poucas coisas parecem fazer sentido" como Sardar define.
Uma bifurcação de eras, uma fenda no tempo, uma dobradiça histórica, uma macro transição (Ervin Laszlo, Macroshift), são alguns símbolos dessa mudança sem precedentes que chegou até a ofuscar a urgência das mudanças climáticas as quais vinham ganhando impulso entre as mais importantes preocupações na soc iedade e nas diversas agendas institucionais desde a década de 70.
Nos últimos anos, o número de acontecimentos, imprevistos e crises que fundamentam a teoria dos tempos pós-normais cresceu rapidamente. A atual pandemia é um exemplo perfeito do pós-normal e a confluência dos 3 Cs: