Caros leitores,
O texto abaixo inspira-se simultaneamente em Claudio Naranjo, Elias Canetti e Alaor Passos. Apenas ouso adaptar seus textos mantendo suas irreverências e seus estilos caricaturescos.
Por ter um olhar satírico o leitor tem o direito de discordar ou/e rir muito. Cabe a cada um fazer a sua escolha.
O riso ainda é o melhor remédio!
A Claro /Opaca
Ela é bonita, mas pisa durinho, sem nenhuma ginga. Parece que também é assim a sua maneira de pensar, como se pudesse enquadrar tudo na fôrma única onde sua cabeça foi moldada. Pensar diferente, ou mesmo sentir diferente, desmancharia a fôrma. Não se sabe bem o que ela sente, nem mesmo se chega a sentir algo. Não demonstra sentir raiva, talvez por ser uma emoção inapropriada ou reprimida por ela.
Entretanto, frequentemente, deixa transparecer estados de ânimo irritadiços e não tem dificuldade para reclamar. Ela se mostra acessível e solícita, mas guarda sempre certo distanciamento formalmente educado. Não transmite um claro sentimento de superioridade, mas parece óbvio que deposita mais confiança no próprio taco do que em qualquer outro. Também parece óbvio que faz julgamentos continuamente, acompanhados de crítica e autocrítica constantes, mas quase nunca os expressa verbalmente.
A amiga dos Reis
A amiga dos Reis tem ares de majestade; sabe o que deve à sua missão e é famosa por seu modo de receber seus convidados. Mas não se limita à mera hospitalidade, e todos pressentem que se prepara qualquer coisa especial. Não comunica logo de que se tratará desta vez. Com isso, aumenta a tensão. É igual ou superior ao rei. Ela é alta e impotente. Tem inesgotáveis reservas de desdém. O menor gesto faz com que identifique seus súditos e os mantenha longe do rei. Tem também um olhar perspicaz com relação aos cortesãos, sabe promovê-los habilmente e os emprega em tudo quanto é corte. É dura e menospreza mendigos, a não ser que se enfileirem, sempre que haja necessidade deles. Apresenta-os em grande quantidade, quando fica iminente a proclamação de um rei. Então, de repente, todas as portas de sua casa se abrem. A casa se amplia, transformando-se em palácio. Anjos entoam cânticos; bispos abençoam, e ela, nas novas vestes, lê uma mensagem despachada por Deus e jubilosamente proclama o rei.