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Edição #57 - Fevereiro 2018

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Medo

Quando recebi o desafio de escrever esse dossiê, fiquei um tanto assustada. Medo é um tema complexo, amplo e que pode ser explorado de diversas formas. Então, fiquei imaginando o que poderia agregar valor aos leitores.

Após considerar algumas possibilidades, escolhi abordar as contribuições da neurociência do comportamento e, para isso, convidei quatro colegas coaches a trazerem suas contribuições.

O que você irá ler é fruto de insights analíticos baseados em nossos estudos e experiências, assim pretendemos apenas oferecer a possibilidade de novas reflexões, sem querer esgotar o leque de questões que podem ser desferidas sobre o tema.

Boa leitura, divirta-se!

DEFINIÇÃO E FISIOLOGIA

O cérebro controla todos os aspectos da nossa vida. Ele revela, provavelmente, muito mais do que o código genético que trazemos ao nascer; ele diz o que cada um de nós realmente é, mostrando o que temos em comum e nossas diferenças. Não existe, no mundo, um cérebro igual a outro, e a forma como os circuitos neurais se organizam em cada um, explica o que fazemos, como fazemos, como nos lembramos das coisas, o que sentimos, nossos amores e medos.

Esse dossiê se propõe a explorar o medo e seus desdobramentos na vida das pessoas. Para isso, consideramos importante trazer uma definição clara que baseia nossa abordagem e informações sobre sua fisiologia.

Entendemos que o medo é um estado emocional que surge em resposta a uma situação de ameaça, onde acreditamos que nossa segurança ou a vida estejam em risco. Frequentemente, ele se caracteriza como um impulso negativo, que pode impedir algumas ações, mas é essa mesma emoção, o medo, responsável por nos ensinar a respeitar nossos limites. Ele serve como uma espécie de alerta e é de extrema importância para a sobrevivência das espécies, principalmente para nós, humanos.

Para que o medo apareça, é necessária a presença de um estímulo que provoque ansiedade e insegurança no indivíduo; e os humanos são capazes de desencadear medo a partir apenas da ideia de que algo seja desagradável ou ameaçador, ou seja, o medo pode ser provocado por razões sem fundamento ou lógica racional, basta que tenhamos uma crença que sustente uma determinada ideia de ameaça.

Através dos estudos da neurociência, acredita-se que a fisiologia do medo esteja associada à porção mais antiga do cérebro, chamada Tronco Cerebral. Estudos realizados por pesquisadores do Laboratório de Psicobiologia da Universidade de São Paulo (USP) de Ribeirão Preto comprovam que o medo, em seu estado mais primitivo, é um sentimento que está apoiado nos circuitos neurais equivalente aos dos primeiros répteis da Terra, acionando o chamado cérebro reptiliano, aquele que nos faz agir de forma impulsiva. É essa porção que nos assemelha a outros mamíferos e répteis e é também a parte que nos mantém vivos, pois integra funções vitais como o ritmo cardíaco, a digestão, a respiração e a pressão arterial.

O sistema límbico, responsável pelo controle das atividades emocionais, possui estruturas muito especiais, chamadas amígdalas cerebrais (localizadas dentro da região anteroinferior do lobo temporal em cada hemisfério do cérebro), responsáveis pela gênese do medo. O córtex pré-frontal, área cognitiva e emocional do cérebro, é responsável pela avaliação de potenciais perigos, cuidando assim da nossa autopreservação.

Quando somos confrontados com situações de ameaça, um processo involuntário é desencadeado, o hipotálamo secreta a proteína corticotropina, que estimula a hipófise e esta, por sua vez, produz o hormônio adrenocorticotrópico, que leva a glândula supra-renal a liberar cortisol, preparando nosso corpo para nos defendermos ou fugirmos.

Isso se traduz, no nosso organismo, através de características físicas muito típicas, mediadas pela divisão simpática do sistema nervoso autônomo, o que, na prática, significa aumento dos batimentos cardíacos, aceleração da respiração e contração muscular, que pretendem garantir nossa proteção e sobrevivência.

Outra substância química liberada pelo organismo, quando enfrentamos situação de estresse, é a serotonina, neurotransmissor que transmite impulsos entre os neurônios. Ela possui papel importante na aprendizagem, humor, sono e vasoconstrição (contração dos vasos sanguíneos) - todos aspectos fundamentais para o crescimento e desenvolvimento das pessoas.

A neurociência vem nos ajudando a estabelecer, com cada vez mais clareza, as bases orgânicas do comportamento, e hoje sabemos que o “medo social” (rejeição, incompetência, falta de importância, etc.) é um impulso primário que desencadeia as mesmas reações fisiológicas dos medos concretos (aqueles que logicamente colocam nossa sobrevivência em cheque). Isso significa que o medo ‘socioemocional’ é deflagrado nas mesmas regiões do cérebro que processam o medo concreto, disparando as mesmas reações físicas. Como diz David Rock, co-fundador e CEO do NeuroLeadership Institute, o cérebro humano é um órgão social, por isso, nossas reações, limitações e sofrimentos decorrentes de ameaças socioemocionais também impactam nossa “sobrevivência”.

Artigo publicado em 19/02/2018
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