Ela sentou na minha frente e começou a desabafar. Estava agitada, falava rápido, descrevia os últimos dez anos de sua vida em detalhes e mal conseguia respirar entre uma história e outra. Na tela que se formava estavam relacionamentos familiares corrompidos, histórias de amor recheadas de traições e mal-entendidos, um empreendimento falido e a indecisão sobre o futuro profissional. Ela parecia reunir todos os dilemas de uma só vez. Depois de quase uma hora ouvindo, eu a interrompi e perguntei: “- Por que coaching?”. E ela respondeu: “- Porque preciso de um novo rumo”.
A proposta dela era iniciar um processo de Coaching de Carreira. Aparentemente, o incômodo maior estava no fato de que ela não suportava ir todos os dias para um trabalho do qual não gostava e que servia apenas como forma de sustento, após o fechamento da própria empresa. Mas a narrativa me fez perceber que aquela “Roda da Vida” não tinha somente um ponto ou dois de insatisfação, e sim uma série de questões entrelaçadas, além da total ausência do “eu”. “Meu pai fez isso”, “minha mãe fez aquilo”, “meu namorado foi infiel”, “meus amigos não são bons como eu imaginava”, “a economia não estava favorável” e todos os comentários que seguiram mostraram que, naquele universo, a auto responsabilidade era desconhecida ou totalmente ignorada. Por mais que ela não gostasse do termo, era claro que aquele era um processo de Coaching de Vida.
“- Eu gostaria de sugerir uma tarefa simples antes de iniciarmos seu processo”, disse a ela. “- Gostaria que você fizesse uma lista com todas as escolhas, decisões, pensamentos, sentimentos e atitudes que a fizeram chegar até este ponto da sua vida”, completei. Ela me olhou com estranheza e disse que não havia entendido. Eu expliquei: “- A sua vida e os seus resultados são reflexos das escolhas que fez até hoje, então eu quero que você liste tudo o que você escolheu nos últimos dez anos e que a fizeram chegar nessa situação”. Ela entendeu o recado e assim nosso trabalho começou.