Estamos cometendo o erro de considerar um problema como sendo algo cotidiano. E, claro, sofrendo com as consequências.
Quem já ouviu falar em “mal do século” talvez não saiba que, originalmente, a expressão vem da literatura. Tratava-se da imensa força e presença da melancolia e do pessimismo na prosa poética da segunda geração de autores do período conhecido como Romantismo (que tem início no Século XVIII). Também chamado de Sentimentalismo, o mal do século não era uma doença propriamente dita, era mais o retrato de um efeito. O pessimismo capaz de adoecer indivíduo e ambiente, se manifestando na forma de problemas reais: letargia, desvios de comportamento, loucura e depressão.
Qual seria, então, o mal do século XXI?
A depressão levou o título no século passado. Para o médico psiquiatra e escritor Augusto Cury, o problema maior de nosso tempo é a ansiedade. Acredito em algo que vem antes. A ansiedade é a primeira evidência perceptível do estresse. É o sintoma de uma mente que, de tão preocupada com o futuro, não está mais presente na própria vida.
Para mim, o estresse é o mal do Século XXI. A exemplo do pessimismo romântico, ele também é mais sintoma que doença. E é igualmente capaz de levar a diversos desdobramentos. Depressão, distúrbios de comportamento e sono, irritabilidade, apatia. E, como falado anteriormente, essas coisas todas juntas levam ao Burnout.
Mal da mente e do corpo
No artigo anterior, ao falar do quão comuns se tornaram alguns distúrbios decorrentes do excesso de trabalho, resumi a situação afirmando o óbvio: comum não é o mesmo que normal. O ritmo de trabalho, o alto nível de exigência pessoal, profissional, a pressão por desempenho vinda de pares, chefes e familiares, tudo isso reforça uma impressão, cada vez mais enraizada, de que o certo é se matar de trabalhar. Não poderia estar mais equivocado.
Vamos com outra obviedade: para trabalhar, é preciso estar são. Para desempenhar todas as suas atividades e papéis, é necessário que os profissionais tenham condições físicas de performar, além de terem condições mentais de suportar pressão e cobranças. A ironia é que estas são as habilidades minadas pelo estresse. Em médio e curto prazo, a interpretação de que é preciso conviver com ele e aceitá-lo para trabalhar bem é a primeira responsável por afetar negativamente a produtividade do trabalhador.