A mudança na relação das mulheres com o trabalho tem acelerado, só que mais fora do que dentro de casa. A ascensão feminina e seu crescimento profissional de um lado e a pressão doméstica de outro. Embora a participação feminina na economia seja de 60% no mercado de trabalho, os desafios aumentam na maternidade.
Dois anos de pandemia e a as dificuldades para conciliar vida profissional e familiar ficaram mais expostas, assim como as desigualdades na divisão do cuidado dos filhos e das tarefas domésticas. Essa pressão que já existia durante décadas, alcançou a exaustão. Os cuidados com as crianças fora da escola e com a casa intensificaram realidades domésticas assimétricas entre homens e mulheres. O quadro se agrava quando mulheres que não têm o privilégio do home-office precisam terceirizar os cuidados dos filhos, nem sempre com o privilégio de deixá-los com os avós, tios, parentes em geral, mas com pessoas fora do círculo familiar.
A maternidade tem perdido valor, menos romantizada e confrontada com experiências novas, como por exemplo a guarda compartilhada entre amigos (sem compromisso conjugal) ou o adiamento da gestação para fases de idade mais maduras ou até através do congelamento de óvulos e fertilização in vitro.
As brasileiras têm se destacado no mundo pela opção de ter menos filhos ou até de não tê-los (UNDPA 2018). A taxa de fecundidade já em 2018 era de 1,7 filhos por mulher, abaixo da média mundial que era de 2,5. As demandas familiares aumentam e novos papéis sociais se impõem sobre gerar novos seres.
Essa é uma tendência crescente entre os jovens que já declaram não querer ter filhos. Razões não faltam: ansiedade climática, o fantasma do desemprego, inúmeras outras ameaças que atravessam esse momento histórico: aquecimento global irreversível, desastres naturais, o regresso do totalitarismo, iminente guerra nuclear, inteligência artificial sem controle, possíveis novas pandemias, concentração de riqueza e desigualdade social, entre outras. Não é pouca coisa. São múltiplas as crises. Índices de depressão e distúrbios psicológicos de toda ordem dissipam desejos, esperanças e nublam visões românticas de harmonia familiar.
Para entender como as mudanças acontecem é preciso reconhecer que o futuro caminha lado a lado com as amarras do passado. São tantos avanços históricos e as mulheres ocupando espaços, se destacando na economia, na política, no esporte, na ciência, na cultura, nos conselhos e nos cargos mais altos das empresas.