Ver o Caetano Veloso com os filhos, transportou-me para o imenso e intenso universo de ser mãe.
(...) pérola negra te amo, te amo
No silêncio deste lugar, onde descanso o corpo e a alma inquieta, ganhei um espaço para me permitir sentir o que está para além do tão poderoso amor de mãe.
Sou também assaltada pelas minhas memórias de tristeza, alegria e perdão.
Porque a mãe já foi filha. Sim!
Nasci junto ao mar, envolta pelo olhar carinhoso da minha mãe e dos meus avós. O meu pai, militar, estava nos Estados Unidos, em comissão de serviço.
As fotografias da época mostram-me uma menina doce e de sorriso tímido.
As histórias, contadas pelos meus avós, falam de uma neta irrequieta, valente e encantadora.
A minha mãe engravidou da minha irmã quando eu tinha 2 anos e sentiu que não podia cuidar das duas filhas. Até aos 5 anos vivi com uns avós muito meigos, que procuravam ocupar-me os dias, como quem nos ajuda a encher um peito vazio. Fiz castelos de areia na nossa praia, corri com os pés dentro de água e, com 4 anos comecei a aprender a ler com a professora Deonílda. Sentava-me numa cadeira de madeira e palha, ardósia e giz na mão e ensaiava as primeiras letras. Descobri as palavras e nesse momento, contam-me que escrevi “estou triste” e chorei muito. Filhos, experimentei o doloroso sentimento primário, o abandono! Um dia vieram buscar-me, mas a ferida já estava no fundo do meu peito. Apaguei as memórias e sempre soube que queria ser mãe, uma mãe que cuida, que brinca, que abraça até à exaustão.