Num artigo publicado em 2018, Shoukry e Cox apresentam uma abordagem de coaching sob a ótica de um processo social, contribuindo para a ampliação e o aprofundamento da compreensão das inúmeras variáveis que impactam esta atividade, bem como dos respectivos valores implícitos contidos, valores estes que poucas vezes são reconhecidos e considerados.
Esta condição tem sido frequente no contexto empresarial do mundo ocidental, no qual o coaching executivo é utilizado com a expectativa de elevar performance e eficácia através de intervenções de caráter individual voltadas para a mudança comportamental.
Para os citados autores, a abordagem do coaching como um processo social que contribui para remodelar o contexto, poderia ser considerada uma “tecnologia do self” ( Cushion, 2018) que, por sua vez , é afetada por processos históricos, culturais e sociais, impactando as estruturas socioeconômicas e políticas vigentes.
Tal condição tem efeitos sobre a indústria do coaching como um todo, pois a ideologia que lhe é implícita influencia a formação e o treinamento de coaches, a regulamentação desta atividade, além de fatores como ética, supervisão, desenvolvimento, pesquisa e educação continuada.
Lembram, ainda, que o Coaching aplicado ao contexto empresarial utiliza-se de um discurso que envolve termos como competitividade, retorno sobre investimento, resultados, eficácia e autoatualização, trazendo consigo o risco de transformar o coaching em um instrumento de conformidade empresarial e social, ou seja, uma intervenção através da qual se obtém apoio profissional para integrar-se numa certa ideologia difusa sustentada por uma dinâmica de poder atuante.
Desta forma coaching seria uma intervenção que tanto poderá facilitar a conformidade quanto a mudança, como poderá ser um processo tanto de controle, quanto de resistência.
Para os autores Coaching Empresarial, quando utilizado em ambientes político, social e culturalmente opressivos, poderá gerar problemas de ordem ética relacionados com valores como compaixão ou confrontação, aceitação ou resistência, ameaçando a
preconizada “neutralidade” do coach.
Consideram ainda que “coaching foi modelado por aspectos culturais do mundo ocidental, prod uto de um contexto social específico que reforça o status quo”. Ao abordar o coaching como um processo social poderia torná-lo um facilitador de mudanças significativas, contribuindo assim para que os executivos assumam uma responsabilidade mais holística, e criticamente reflexiva em suas ações, promovendo assim a compreensão de seu papel na construção da responsabilidade social corporativa.
Entretanto, ao contratarem processos de coaching, a tendencia de certos coaches é ratificar os valores da organização. Observa-se uma tensão inerente ao contrato de três pontas entre coach/coachee/organização, uma relação por vezes sujeita a agendas ocultas e a uma dinâmica de poder implícita e complexa.
Em certos casos poderá tornar-se uma forma de controle, “um instrumento de formatação do indivíduo para que este se ajuste às normas da organização” (Fatien Diochon e Lovelace, 2015, p. 308). Assim “o espaço de coaching poderá oportunizar tanto o controle organizacional quanto os mecanismos individuais de poder” ( Fatien Diochon e Lovelace, 2015, p. 314).
Como ressalta Shoukry (2016). “a suposta universalidade do coaching poderá ser benéfica para o seu crescimento, mas compreender os fatores contextuais que o afetam são essenciais para a sua sustentabilidade.”
Diante deste contexto social, entendido como o espaço no qual se dá o processo de coaching, que abrange cultura, estrutura social, dinâmica de poder e eventual presença de opressão, os autores apresentam duas posturas possíveis do coach: