O modelo de economia que vivemos tende a transformar tudo em mercadoria, tudo se torna algo a ser vendido e comprado, o que é grave, porque o processo de mercantilização corre o risco de deixar a ética em segundo plano. Alguns até ensinam outros a se verem como produtos, mercadorias!
A crise pela qual passamos é uma crise ética, quando a mercadoria (seja o que for) se tornou mais importante que a relação. A ética trata da relação, da necessária religação entre os humanos, entre estes e a sociedade, com a natureza e até com o Cosmos. Porque, como nos diz Morin, quanto mais tomamos consciência de que estamos perdidos, mais temos necessidade de nos religarmos uns aos outros.
Pois bem, coaching acontece no relacionamento humano. De acordo com a ICF, “é um processo de acompanhamento reflexivo e criativo feito em parceria com os clientes, objetivando inspirá-los a maximizar o seu potencial pessoal e profissional”. (ver https://www.icfbrasil.org/icf/codigo-de-etica)
Para que esse processo seja o melhor possível e atinja os seus objetivos, faz-se necessário regras, padrões e requisitos essenciais em termos de competências do coach, porém, o risco de transformar tudo isso em uma mercadoria é uma ameaça presente porque pode implicar em mera aplicação de ferramentas e perder de vista o ser humano que participa do processo com suas frustrações, sonhos, expectativas, necessidades, ou seja, com sua história.
Ora, importa enfatizar que o ser humano é um ser de relação, de diálogo, de experiência que se dá no encontro. Essa relação é essencial para o seu desenvolvimento, para o seu processo de se tornar humano. Quando a relação é mercantilizada, o outro se torna, nas palavras de Martin Buber, um ISSO e não um TU.
A venda do coaching como mercadoria, como um “produto” capaz de fazer “milagres”, muitas vezes criando ilusões e manipulação do cliente é, segundo o pensamento buberiano, transformar o TU em um ISSO, quando o ser humano se torna apenas um objeto. Para ele, a relação de maior valor existencial é o encontro dialógico, a relação inter-humana entre um EU e um TU. Porque o homem se torna EU na relação com o TU, e é nesta alternância que a consciência do parceiro, que permanece o mesmo, que a consciência do EU se esclarece e aumenta cada vez mais.