Eu tenho notado que uma das questões mais perigosas na venda ética dos serviços de coaching se dá quando, de alguma forma, escorregamos na crença de que somos os melhores - a melhor opção para o cliente, a melhor estratégia, o melhor coach. No universo dos melhores cabe pouca reflexão e aprendizagem e assim perdemos a bússola para uma navegação madura, regada por questionamentos sobre limites, respeito, confiança, proximidade, autenticidade, presença, capacidade de perdoar, ver a alma e ter compaixão. Reflexões como estas nos convidam para aprendizagem constante e interminável, onde a curiosidade nos ajuda a não ter tantas certezas. Como aprendizes, e mais facilmente junto ao outro, com novas lentes e possibilidades, podemos trilhar um caminho reflexivo e de adaptação das nossas práticas, ações e relacionamentos, buscando a melhor conexão possível e uma boa jornada de aprendizagem em conjunto com os nossos clientes.
Neste contexto, a ética ocupa um novo lugar, transitando de "cumprir o código" para refletir continuamente a ação. Passmore, em “Supervision in Coaching”, conceitua a ética na ação como um processo de contínua investigação pessoal sobre como nós, individualmente, nos comportamos, quais atitudes aceitamos nos outros e quais desafiamos e, ao considerar estas questões, entender mais sobre nós mesmos e os valores que consideramos.
Este mesmo autor cita alguns pontos fundamentais para o desenvolvimento da ética:
- Perceber valores e comportamentos;
- Identificar questões/dilemas que emergem da sua prática;
- Refletir sobre a sua prática e buscar apoio para ver outros ângulos;
- Explorar opções para lidar com as questões éticas;
- Avaliar opções conforme o código de ética e os seus valores;
- Construir uma jornada ética pelo aprender a aprender.
A construção da jornada ética reside nas competências mais sofisticadas de um coach (Hawkins & Smith; Passmore, entre outros). Normalmente, o profissional inicia a sua trajetória adquirindo conhecimentos e competências técnicas, como um arsenal de ferramentas que transmitem a sensação de capacidade para atuar (figura 1). Frequentemente, percebemos coaches investindo em mais uma formação ou uma nova metodologia como forma de enriquecer a sua prática. Contudo, assim como numa boa dança, o momento mágico emerge na conexão, na parceria, no inesperado, na proximidade e no uso artístico das potencialidades do cliente. Esta sofisticação é co-criada na relação e alimentada pela reflexão ética que considera o respeito e a confiança como alicerces fundamentais. Ocupa um lugar muito além dos arsenais que podem ser ofertados ao envolver a totalidade do indivíduo - a alma do cliente!