Embora tanto do ponto de vista intuitivo quanto do ponto de vista racional seja fácil perceber a estreita relação entre Coaching Executivo e Empresarial e Análise Transacional, sua aplicação apresenta um desafio. Dominar suficientemente a teoria e a prática, de modo a identificar com clareza os pontos de convergência, pesquisar divergências ou eventuais incompatibilidades, exige atenção e dedicação.
Trata-se de uma tarefa que envolve isenção, considerando que existem inúmeras outras abordagens, cujas raízes, tais como a Análise Transacional, estão fincadas em linhas terapêuticas que se propõem a explicar o comportamento humano nas organizações a partir de quadros de referência conceituais utilizados em processos terapêuticos. Estes nem sempre consideram a dimensão sócio cultural, fator este que determina não só padrões de comportamento vigentes numa organização como também o nível de resistência a eventuais mudanças destes padrões.
Os habitantes do mundo corporativo carregam consigo um conjunto complexo de valores, preconceitos, hábitos e percepções, acumulados no correr de sua trajetória de vida ao ingressar numa organização. Esta, por sua vez apresenta uma maneira de ser sui generis, constituída por sua cultura e cujos padrões nem sempre são compatíveis com a maneira de ser de seus colaboradores. Tal incompatibilidade poderá gerar conflitos, resistência à mudança, rotatividade, insatisfação pessoal/profissional, baixo comprometimento com resultados - disfunções estas que tendem a ser tratadas através de treinamentos padronizados, muitos dos quais desconsideram a disponibilidade e a diversidade das demandas/necessidades dos treinandos.
Tanto o Coaching Executivo e Empresarial, como o entendemos, quanto a Análise Transacional, apresentam uma proposta comum: a de contribuir para que as pessoas aperfeiçoem sua capacidade de aprendizagem, seu autoconhecimento, sua autoconsciência.
Considerando que há uma subutilização crônica do potencial humano, caberia a cada indivíduo a responsabilidade de alavancar/otimizar o uso de seus recursos para chegar onde deseja estar como pessoa, como profissional e como membro de uma sociedade. Em suma, atingir a autorrealização e desfrutá-la em todas as áreas de sua vida.
A Análise Transacional Aplicada às Organizações, dada sua versatilidade e clareza, operacionalizou aspectos de sua teoria sobre comportamento humano. Ajustou conceitos adequando sua utilização ao meio empresarial. Desenvolveu um instrumental potente para a compreensão da dinâmica do relacionamento humano, da qualidade e eficácia da comunicação, do exercício da liderança, da resolução de conflitos e da importância do reconhecimento, para citar alguns aspectos. Além de ampliar a visão do comportamento humano, inseriu também a perspectiva sistêmica, ou seja, a necessidade de considerarmos o contexto organizacional bem como sua cultura, como elementos que poderão facilitar ou dificultar a aprendizagem e o desenvolvimento das pessoas.
Sua contribuição para o Coaching Executivo e Empresarial é abrangente. Facilita a construção da relação de confiança entre Coach e Coachee, cria um clima de segurança propício à reflexão.
Por ser um relacionamento nivelado, favorece a aliança de trabalho, evitando a emergência de jogos de poder e de simbioses que prejudicam o processo de Coaching Executivo e Empresarial, bem como o desenvolvimento, a capacidade de gerar opções e a autonomia do Coachee.
Os artigos que compõem este dossiê constituem uma breve visita ao tema. Nossa intenção é levar ao leitor mais uma contribuição para a construção de um aparato conceitual que torne o Coaching Executivo e Empresarial uma área de conhecimento baseada em evidências sólidas, com fronteiras claras e suficientemente flexíveis, para absorver o que outros saberes têm a nos oferecer.
Como observa Williams (2003), já nos idos do início do século XXI, “Coaches reconhecem o brilho de cada cliente e seu poder pessoal para descobrir suas próprias soluções quando contam com apoio, responsabilidade e aceitação positiva incondicional”.
Este é o ponto essencial da convergência entre Coaching e Análise Transacional.
Referências:
Williams, P. (2003). The Potencial Perils of Personal Issues in Coaching. International Journal of Coaching in Organizations 2 (2), p. 21-30.
Artigo publicado em 13/11/2017