“ Sempre vejo anunciados cursos de oratória. Nunca vi anunciado um curso de escutatória. Todos querem aprender a falar. Ninguém quer aprender a ouvir”
Rubem Alves s/data. (escritor e professor)
Introdução
As demandas nas atividades laborais estão se tornando cada vez mais complexas e mutantes, exigindo pessoas com competências técnicas e humanas diferenciadas.
Entretanto o que se tem observado é que o engajamento das pessoas com o seu trabalho tem decaído nos últimos anos, gerando uma síndrome conhecida como “quiet quitting” além do aumento notável de pedidos de demissão voluntária.
Embora esta situação presente seja preocupante, representa uma oportunidade de voltarmos nossa atenção para a importância do envolvimento e engajamento das pessoas no seu trabalho, fatores estes que, por sua natureza, não poderão ser solucionados através do avanço da tecnologia.
Trata-se de uma questão essencialmente humana, relacionada diretamente com os padrões de comportamento vigentes no mundo corporativo, como o estilo de relacionamento interpessoal que tanto poderá gerar entusiasmo, motivação, reconhecimento e participação, quanto desinteresse, insatisfação, isolamento e subutilização do potencial humano disponível.
Referimo-nos, aqui a arte da escuta ativa, fator essencial, porém pouco considerado como tal na criação de ambientes de trabalho produtivos e criativos.
Rogers e Farson (1987, p.1), já nos idos dos anos 80 afirmavam que “A escuta ativa é uma forma importante de estimular mudanças nas pessoas”. Esta provoca alterações nas atitudes das pessoas em relação a si próprias e em relação aos outros. Estimula, também, uma revisão nos valores básicos e na visão de mundo das pessoas. Consideram que a escuta ativa é uma forma eficaz de comunicação.
Ao ouvirmos atentamente o outro transmitimos a ideia de respeito aos seus pensamentos, mesmo que possamos não concordar com eles. Além disso, a escuta ativa é contagiosa, pois tende a estimular igual reação nas pessoas com as quais interagimos.
Charam (2012, p.1) lembra que a “boa escuta” real requer mais do que inteligência emocional e ,disponibilidade. “Escutar abre portas para as conexões autênticas, é o acesso para a construção de relacionamentos e de capacitação”
Como escreve Stritch (2011) “Penso que a relação entre coaching no trabalho, habilidades de coaching e comprometimento ainda não está suficientemente divulgada”, embora as habilidades do coaching exijam uma elevada capacidade de escuta ativa. Para a autora, a escuta é uma arte e envolve escutar o indivíduo no seu todo.
Isto envolve os seguintes aspectos:
# Estar presente, isto é, ter autoconsciência, estar a par de seus próprios processos internos e do limite entre eu e o outro, manter a sintonia com o outro para tomar conhecimento do que está acontecendo. É fazer uso da intuição.
# Criar confiança – ter presente que as emoções também influenciam nosso comportamento e que o calor humano e a segurança psicológica são fatores que geram confiança.
# Escutar/captar a emoção presente. Há ocasiões em que o coachee sente-se à vontade para falar de suas dificuldades e outras em que se sente incompreendido e defensivo. Perceber estes aspectos e oferecer reconhecimento e aceitação atempados convidam o coachee a sentir-se conectado e aceito. Contribui, também, para a construção de um contexto ameno e confortável, gerador de confiança mútua.
Como ressalta Brusman,(2012) “uma conversa produtiva de coaching requer um ambiente no qual as pessoas se sintam suficientemente seguras para focar seus pensamentos e obter novos insights”.