"É o sentido de integridade pessoal que nos permite navegar pelas águas traiçoeiras desses dilemas, e, embora não seja garantia de sucesso, não pode haver êxito sem ela." (Robert Solomon)
Nesse tempo em que celebramos a Páscoa cristã que nos remete à importância da valorização da Vida em Plenitude e quando enfrentamos tantos dilemas na sociedade e nas organizações que afetam a todos nós e ao planeta, penso ser fundamental refletir novamente sobre o pensamento desse filósofo: Robert C. Solomon, um autor que me inspira e fundamenta muitas reflexões que tenho feito nesses anos. Que pena que ele nos deixou tão cedo!
Embora eu não seja um cético - o que procuro deixar claro em minha vida e também em meus livros -, a sua obra “Espiritualidade para Céticos” (Ed. Civilização Brasileira, 2003), nos instiga a pensar com profundidade sobre esse assunto tão relevante para a nossa vida. Seus fundamentos, questionamentos e, sobretudo, o modo como entende a prática da espiritualidade estão bastante alinhadas com o que tenho vivido. Os eventuais “senões” enriquecem a reflexão, ampliando a consciência para acolher o divergente.
Quero destacar aqui os seus três pressupostos:
1. A espiritualidade tem muito a ver com reflexão
2. Não entra em conflito, mas em conluio com a ciência
3. Não está de modo algum limitada à religião
Depois de confessar que durante muito tempo de sua vida não prestou a devida atenção ao tema, sentindo até uma certa aversão tal era o seu preconceito, o cético filósofo, enfim, compreendeu a espiritualidade como “nada menos que o amor bem pensado à vida”. Assim ele logo distingue a espiritualidade de uma crença religiosa e, mais ainda, que uma crença religiosa pode não constituir uma espiritualidade, reconhecendo, entretanto, que para a maioria dos que creem em Deus, essa crença é um componente essencial da espiritualidade.
Malgrado as críticas às diversas religiões e à própria filosofia que ignorava o aspecto emocional do ser humano e suas aspirações espirituais, Solomon chega à conclusão que “o lugar para procurar a espiritualidade, em outras palavras, é aqui mesmo, em nossas vidas e em nosso mundo, não alhures.”
De que lugar fala o autor? Especificamente, para ele, a espiritualidade deve ser encontrada no amor, em nosso senso de humanidade, camaradagem e família e nas melhores amizades e acrescenta que “há admiração e espiritualidade no sentimento de que não estamos no completo controle de nossas vidas, de que há forças que determinam nosso curso que não compreendemos, mas que ainda assim parecem ter algum propósito.”.