“Na verdade, é possível esperar e desejar que Coaches ativos mostrem pouca evidência de qualquer um dos traços da Tríade Sombria”
Grover e Furnham (2021, p.18)
Nos idos de 2002 Paulhus e Williams chamaram a atenção para o que denominaram de “Tríade Sombria” (Dark Triad), uma constelação desfavorável de variáveis de personalidade conceitualmente distintas, mas empiricamente sobrepostas. Estas, Maquiavelismo, narcisismo e psicopatia subclínica, estão correlacionadas e “partilham de uma essência comum de manipulação empedernida.” (p. 1), isto é, três traços de personalidade que, por apresentarem scores elevados em certas pessoas, influenciam sua maneira de ser e agir.
Este tema gerou um conjunto de investigações a respeito de seus efeitos diretos e indiretos no desempenho, bem como no ambiente de trabalho.
Na última década houve um aumento de investigações voltadas para os eventuais efeitos da Tríade Sombria nos processos de Coaching Executivo e Empresarial, uma abordagem que gerou novas perspectivas para a compreensão da dinâmica da relação Coach/Coachee no contexto empresarial.
De modo geral os três traços, narcisismo, psicopatia e Maquiavelismo, podem ser entendidos como “disposições para envolver-se em abordagens de caráter antisocial e de interesse próprio com o fim de atingir metas pessoais”, ( Koehn, Okan e Jonason, 2019, p.7).
Segundo Furnham, Richards e Paulhus (2013), “níveis sub clínicos de traços da Tríade Sombria (psicopatia, Maquiavelismo e narcisismo) implicam, em geral, em diferentes formas de assédio e sabe-se que afetam negativamente os resultados das organizações”.
Para Hyde, Grieve, Norris e Kemp (2020, p.308) os três traços partilham “uma característica manipulativa básica com características distintivas” O Maquiavelismo é um traço que descreve indivíduos voltados para o alcance de metas e que apresentam uma abordagem negativa na interação com os outros. A Tríade Sombria inclui uma variante do narcisismo, ao mensurar o quanto o indivíduo tem necessidade de buscar admiração e prestígio. Traços que refletem a psicopatia incluem a falta de empatia, a superficialidade e o egocentrismo.
Koehn, Okan e Jonason (2019), propõem quatro maneiras de abordar os Traços da Tríade Sombria:
a) análise do conjunto de investigações existentes sobre o tema.
b) compreensão dos fatores intrapessoais associados a estes traços que parecem estar relacionados com o foco no presente, sensibilidade e empatia limitadas.
c) análise de resultados do estilo de vida das pessoas que apresentam estes traços que parecem, segundo algumas investigações, associados a comportamentos socialmente indesejáveis. (Jonason & Webster, 2010).
d) mensuração através de instrumentos de autodiagnóstico (Jonason & Webster, 2010), utilizado em vários estudos.
Para Koehn et al. (2019, p. 15) “a interpretação da história de vida de pessoas com estes traços poderá relacionar uma variedade de observações e buscar interpretações que não sejam totalmente julgadoras e suspeitas.” Um exemplo, é a constatação de que dados disponíveis de vários países indicam que os pesquisados do sexo masculino apresentam scores mais altos em traços de Tríade Sombria do que as do sexo feminino. (Jonason, Foster, Oshio, et al., 2017.
Tal constatação é apoiada, também, pela pesquisa de Hyde, Grieve et al. (2020, p. 307) com 765 participantes (581 mulheres e 184 homens) sobre sua tendência a manipular emocionalmente no trabalho. Esta pesquisa abordou o papel do gênero, da inteligência emocional e dos traços da Tríade Sombria neste tipo de comportamento indicando que “ as mulheres tinham, no trabalho, menor probabilidade de envolver-se em manipulação emocional maliciosa e dissimulada do que os homens”.
Grover e Furnham (2021) publicaram recentemente os resultados de uma pesquisa sobre a influência da Tríade Sombria na área de Coaching Executivo.