A Síndrome de Burnout pode ser prevenida! Quantas pessoas gostariam de ter evitado chegar ao esgotamento, ao sentimento de não se reconhecer mais e perder a confiança em si mesmas, em suas capacidades de concentração, de memória e de regulação emocional... Após ter vivido a síndrome e acompanhado dezenas de pessoas no processo de recuperação, considero essa experiência como um choque, uma transição de vida que jamais será esquecida, felizmente. Sim, você leu corretamente: felizmente! Mesmo que, nos primeiros meses ou até anos, a tendência seja desejar que tudo não passe de um pesadelo do qual acordaremos aliviados. Ao sentir na pele os limites do próprio corpo e viver os lutos envolvidos no processo, as lições aprendidas se tornam grandes aliadas, com o tempo. Pois sim, o resultado dessa experiência costuma ser mais autoconhecimento e critérios mais claros sobre o que se pode aceitar no ambiente do trabalho. O contexto ocupa um papel central neste processo, que não está ligado a uma fragilidade do indivíduo, mas a um processo dinâmico e construído mutuamente entre indivíduo, sociedade e o ambiente laboral. Permita-me uma pausa neste ponto: se for levar apenas uma mensagem deste artigo, que seja esta: os sintomas do esgotamento começam por razões fisiológicas ligadas ao mecanismo do estresse crônico! Não é fraqueza, nem escolha e muito menos preguiça de trabalhar. Ajude-me a conscientizar as pessoas para que este assunto deixe de ser um tabu e informe-se sobre seu próprio corpo e sobre o mecanismo do estresse, combinado? Agora podemos continuar...
Existem muitas definições da Síndrome de Burnout, mas, em 2021, um grupo científico de 50 especialistas de 29 países chegou a um consenso que define a síndrome como um estado de esgotamento físico e emocional ligado à exposição prolongada a problemas profissionais¹. Em nossa sociedade liberal, o trabalho ocupa um lugar central na rotina e na identidade de cada um, afinal é nesse espaço que passamos a maior parte do nosso tempo. Você conhece muitas pessoas que podem afirmar não ter nenhum problema no trabalho? Eu não...
Além disso, hoje sabemos que pessoas extremamente engajadas, perfeccionistas e que se destacam no trabalho representam a população de maior risco para desenvolver a síndrome. Mas isso não quer dizer que engajamento precisa levar a exaustão! Razão pela qual as seis dimensões propostas pela psicóloga Christina Maslach, a criadora da escala mais utilizada no mundo para medir os fatores de risco para síndrome de burnout², podem ser uma bússola preciosa para cada um de nós repensarmos nossa relação com o trabalho e reagirmos a tempo. Sobre isso, vale relembrar que Christina Maslach baseou sua famosa Maslach Burnout Inventory (MBI) nestas dimensões: carga de trabalho, controle, recompensa, comunidade, justiça e valores, que detalharei adiante³. Porque sim, é possível prevenir a síndrome de burnout se houver uma colaboração saudável entre o indivíduo e seu meio de trabalho para remediar os gatilhos vindos do contexto, como explicitado nessas seis dimensões. Acredito que o primeiro passo para prevenir o esgotamento é por meio da informação. Então vamos lá: