Para que seja possível discorrer sobre a relação entre Inteligência Emocional (EQ) e Inteligência Espiritual (SQ), é necessário esclarecer como compreendo e faço uso destes conceitos. Muitos autores me servem de referência e fundamentam minha prática em Desenvolvimento Humano, entretanto, trago apenas os ligados ao escopo deste artigo, e exploro com mais profundidade a SQ por ser o construto mais recente, para depois explicitar minha perspectiva a respeito da conexão entre SQ e EQ.
Enxergo inteligências como linhas distintas de desenvolvimento (Wilber, 2000) e acredito fortemente na SQ como uma inteligência integradora (Wigglesworth, 2012), capaz de expandir nossas capacidades nas múltiplas inteligências que possuímos (Gardner, 1983). Nós nos desenvolvemos em cada linha de modo independente e interconectado, sendo que a inteligência espiritual “quando altamente desenvolvida, também se torna fonte de orientação e direcionamento para as outras dimensões do nosso potencial humano” (Wigglesworth, 2012).
Mas afinal, o que é SQ? Trata-se mesmo de uma inteligência? É diferente de Espiritualidade? E Religião, onde entra neste contexto?
Desde o final dos anos 90, diversos autores escreveram sobre isso. Não existe consenso em relação à definição e abrangência da Inteligência Espiritual e enquanto uns não concordam com a denominação dessa dimensão do ser humano como sendo uma inteligência, outros não distinguem SQ de Espiritualidade e utilizam ora um ora outro termo em seus artigos, de modo indiferente.
Porém, alguns autores afirmam que tais conceitos são distintos, e é com este grupo que me identifico, sendo a norte-americana Cindy Wigglesworth quem mais admiro, por apresentar um aporte teórico-prático brilhante e uma aproximação teleológica, orientada ao crescimento. Com linguagem imparcial e pragmática, ela demonstra de modo cuidadoso e objetivo como transformar a consciência do transcendente e a dimensão espiritual do ser humano em comportamentos e ações.
Wigglesworth diferencia Espiritualidade de Inteligência Espiritual. Para ela, Espiritualidade é “a necessidade inata do ser humano se conectar a algo maior do que ele mesmo, algo que considere divino ou de nobreza excepcional” e Inteligência Espiritual, “a capacidade de se comportar com sabedoria e compaixão, mantendo paz interior e exterior, independentemente da situação”. Sua teoria de desenvolvimento – SQ21 – se fundamenta em vasta pesquisa de conhecimento nos campos da Ciência, Filosofia, Psicologia e das grandes tradições de fé, principalmente o Misticismo, sendo simultaneamente neutra e amigável a qualquer sistema de crenças, não entrando em conflito com nenhuma religião e funcionando de modo igualmente eficaz entre céticos e ateus. Por estas razões, é utilizada com sucesso para desenvolvimento de liderança no meio empresarial já há alguns anos.