Como coaches, somos convidados em diversas situações para “resolver o problema da equipe por definitivo” ou para “motivar colaboradores”. Esses convites sempre criaram em mim alguns desconfortos, até que adotei – tanto por hábito e baseada na minha ética profissional – a prática de esclarecer e reforçar junto a esses clientes que naquelas situações era preciso lidar com algo chamado imunidade à mudança. Em outras palavras, procurava explicar que a mudança das equipes só pode ser iniciada por meio da reflexão e autoconhecimento de cada ser humano, para então trabalhar o processo coletivo.
Mas “nem tudo é terra arrasada”, como nos ensina a história, para não desistirmos frente aos primeiros obstáculos e ameaças. Afinal de contas, identificar quais são os potenciais de cada equipe e empoderar cada integrante também precisa permear a nossa prática como coaches.
Os relatos são diversos, ouvimos com igual normalidade histórias baseadas em fatos reais, outras nem tanto. É provável que você já tenha vivenciado situações semelhantes como coach. No meu caso, elas me estimularam a aprofundar estudos sobre a mudança dos seres humanos e de suas equipes, identificando a imunidade à mudança.
De forma persistente, Robert Kegan e Lisa Lahey, dois professores da Harvard University, estudam esse tema há mais de 40 anos. Eles nos instigam a repensar à nossa maneira de compreender a nossa imunidade à mudança, tanto no âmbito individual como no coletivo.
A intenção deste artigo é descrever a experiência de abordagem da imunidade à mudança por meio do uso do mapa coletivo em uma equipe de uma instituição educacional privada no decorrer do ano de 2016.
Quem sou eu e quem somos nós?
A autorreflexão e autoconhecimento são processos iniciais de qualquer trabalho organizacional, e não por um acaso são aspectos críticos em todos os tipos de relacionamentos. O papel oculto da emoção na superação do desafio de mudar, e a necessidade do ser humano de encontrar uma maneira de levar aquilo que pensa como uma experiência pessoal para esfera coletiva levaram Kegan e Lahey (2010) a recomendar a construção inicial do mapa individual nas equipes previamente à elaboração do mapa coletivo.
Existem diversas maneiras possíveis para uso do mapa de imunidade à mudança coletivo, e é importante considerar variáveis como tamanh o do grupo; relações hierárquicas; natureza da coletividade; e disponibilidade ou interesse dos integrantes da equipe em participarem. Nessa experiência específica da escola, encontros prévios foram realizados com objetivo de fortalecer a relação de confiança, possibilitando maior abertura, clareza e entendimento das várias partes que compunham o todo. É essencial reforçar que encontros com tal finalidade contribuíram, sob nosso olhar, para que resultados pudessem ser alcançados posteriormente assim como para superar momentos de adversidade dentro do grupo durante a construção do mapa coletivo.
Apresentamos a seguir o quadro 1, que demonstra o modelo do mapa adotado para a experimentação com a equipe da referida escola. Na construção da coluna 4, os medos e receios são normalmente individuais, e trazer o consenso da equipe participante é um desafio tanto para o facilitador quanto para o grupo. Dessa forma, adaptamos o mapa, e não utilizamos ao padrão tradicional do formato da Coluna 3 – Compromissos ocultos, iniciado pela “Caixa de receios / medos”. Trabalhamos diretamente com os compromissos ocultos, sem prejuízo de resultados finais.