Quando escrevi os Movimentos Humanos em 2014, o primeiro deles, A Desestruturação – movimento que aponta a quebra de estruturas que sustentam o status quo consolidado –, foi o mais óbvio a ser notado e explicado. De lá para cá, já andamos fortemente e retrocedemos rapidamente em diversos pontos. Ora ficava feliz ao perceber que estávamos escolhendo um novo status quo que se mostrava mais isonômico e equitativo; ora lamentava a força que os opositores disso tinham, provocando retrocessos.
Com o tempo, entendi que nosso andar como sociedade é como dançar um tango dramaticamente envolvidos com a música: andamos para a frente, nos suspendemos, retrocedemos e rodamos, num constante jogo de força e entrega.
Está claro, para todos que estudam o desenvolvimento humano, que as estruturas que sustentavam o status quo criado e consolidado por uma parte da sociedade – a parte branca, masculina e heterossexual – estavam rachando. O que talvez poucos saibam é que chegamos a tal ponto de inflexão que não tem mais volta. Para alguns pode até ser uma má notícia, porém, para a maioria que busca o desenvolvimento humano embasado em valores como justiça, integridade e equidade e que possui uma noção de propósito, sei que será uma grande alegria.
Acabei de voltar de mais uma onda do Projeto Uno – projeto qualitativo que realizo desde 2010 e que visa observar e acompanhar a transição de valores da nossa sociedade. Trago para este dossiê sobre valores esta nova descoberta. Parece que, mesmo rodando na nossa dança social, decidimos avançar até o ponto em que a moral regente se transformou. Está criada a base para uma nova ordem social.
É importante dizer que tenho consciência da realidade do Brasil. Por causa do meu ofício de pesquisadora com mais de 30 anos de experiência, conheço as distintas realidades deste país desigual. Sei, também, que o Brasil está classificado no 3º nível de Consciência, o State Awareness, dentro do estudo da Consciência Global que Richard Barrett apresenta em seu último livro, Worldview Dynamics and The Well-Being of Nations (ainda sem tradução para o português), lançado mundialmente em janeiro deste ano. Para quem não sabe, Richard Barrett é o criador do The Barrett Model, uma das metodologias mais reconhecidas para mensurar e trabalhar Cultura Organizacional a partir de valores.