Nesta segunda parte do artigo sobre Cultura Organizacional, quero destacar a seguinte dimensão:
- Controle da Incerteza
Esta dimensão representa o grau em que determinadas sociedades criam mecanismos, inconscientemente, para evitar a ambiguidade e/ou a incerteza. Lembrando que uma sociedade é caracterizada pelo conjunto de pontuações de suas dimensões, únicas, e ainda com outros componentes a serem analisados, como a religiosidade, local geográfico onde vive, clima predominante, entre outros.
Esta é a dimensão na qual o Brasil tem a mais alta pontuação, seguida pelo Distanciamento do Poder que analisamos na edição 7. Isto quer dizer que o brasileiro, de forma geral, tem grande tendência a criar estratégias e mecanismos, mesmo que inconscientemente, para evitar mudanças, dar continuidade ao que está vivendo, e não arriscar tornar ruim o que está bom e, principalmente, o que está ruim em pior.
Pesquisando no Google por “montar negócio próprio”, há 107.000 resultados. Pesquisando “Concurso Público”, há 4.400.000. Não é à toa que no Brasil existe ainda hoje uma febre em torno dos Concursos Públicos. Por trás desta opção existem muitos motivos pessoais e familiares, mas o componente cultural relativo a evitar a incerteza, garantir um futuro seguro, pesa muito. Vejamos então algumas das características de culturas que possuem esta dimensão elevada. Novamente lembro que nem todas as características serão encontradas em nossa cultura, pois a presença de cada uma depende de vários fatores.
- Planejamento e organização:
Via de regra, estas culturas prezam o planejamento detalhado e a organização. Alemanha e Suíça são dois exemplos. A finalidade do planejar e organizar é assegurar ao máximo o atingimento de determinados padrões, desta forma, sabemos o que vai acontecer e pode-se lidar melhor com a vida, com mais segurança. Por várias razões culturais, principalmente a influência tribal, tanto dos índios que aqui viviam antes do “descobrimento” como dos índios africanos escravizados e trazidos para nosso país. Uma cultura tribal típica não trabalha ou produz com base em budget e plano de metas. Ela vive o dia atual, sempre um de cada vez, e estão muito presentes no aqui e agora. Desta forma, não faz sentido algum que uma tribo elabore um planejamento estratégico de 5 e 10 anos. Outro elemento que herdamos das culturas tribais que formataram nossa cultura é a tradição oral na passagem do conhecimento. Quando no final da década de 80 tiveram início os programas da qualidade nas empresas, com vistas à ISO 9000, lançada em 1987, uma das maiores dificuldades da equipe de Garantia da Qualidade era fazer com que cada área elaborasse seu “Manual da Qualidade” com o famoso POP, “Procedimento Operacional Padrão”. Nesta época eu participei deste processo e era impressionante a resistência que as pessoas tinham para escrever o que faziam. Existem pelo menos duas hipóteses para este fato.