Como reflexo da expansão da luta dos movimentos sociais e a busca pela construção de uma sociedade mais igualitária, o tema da diversidade tem assumido grande expressividade no contexto recente, ganhando espaço, inclusive, no universo corporativo. O debate sobre diversidade nas empresas é amplo e complexo, justamente por abarcar diferentes marcadores sociais, como: gênero, raça, etnia, orientação sexual, identidade de gênero, pessoas com deficiência, idade/geração, grau de instrução, nacionalidade, etc.
Porém, existem diferentes formas de conduzir a discussão sobre diversidade. É possível partir de um viés romantizado ou da compreensão de que em uma sociedade como a nossa com histórico colonial – onde mais de 350 anos foram baseados na exploração escravista e patriarcal – diferença é sinônimo de desigualdade. Portanto, o reconhecimento da diversidade precisa estar vinculado a busca por equidade social e em diálogo com o paradoxo apontado por Boaventura de Souza Santos: “Temos o direito a ser iguais sempre que a diferença nos inferioriza; temos o direito a ser diferentes sempre que a igualdade nos descaracteriza.” (SANTOS, 2006, p. 316).
Ademais, devido a dinâmica das relações de poder fica nítido que existem temas mais aceitos do que outros na seara do debate sobre diversidade. Até porque, são distintos os tipos e graus de simpatia e aversão frente ao debate sobre “direitos humanos”, de modo geral. Nas empresas brasileiras, além de esta discussão ser mais recente e muitas vezes imposta pelas matrizes no caso das multinacionais, é evidente que alguns temas possuem menos capilaridade, como o enfoque na diversidade racial, por exemplo. Ou seja, parece ser mais fácil tratar sobre os direitos das mulheres, das pessoas com deficiência e até mesmo da diversidade sexual, do que falar sobre equidade racial nas organizações.
Com efeito, ainda que a população negra represente a maioria, contabilizando 54% dos brasileiros, a reflexão sobre as relações raciais não representa uma dificuldade apenas no ambiente corporativo, pelo contrário, ela é consequência da extensa e duradoura presença do mito da democracia racial no nosso imaginário social. Tal discurso alimentou uma espécie de preconceito contra assumir a existência do preconceito racial. Contudo, mesmo sendo teoricamente “velado”, o racismo possui um caráter estrutural no nosso país. Pois, “Os brasileiros valorizam sua origem diversificada, incluindo as raízes africanas, presentes na música, na alimentação, no sincretismo religioso; gostam de se imaginar como uma sociedade sem preconceitos de raça ou cor. Mas, por outro lado, é uma sociedade estratificada, em que o acesso às oportunidades educacionais e às posições de prestígio no mercado de trabalho é definido pelas origens econômica e racial.” (FLEURY, 2000, p. 19).