Yuval Harari, em seu excelente best-seller “Sapiens”, argumenta que o que fez a nossa espécie prevalecer sobre outras, é precisamente sua capacidade de contar histórias e acreditar nelas para construir nossas vidas e culturas.
Alguns filósofos epistemológicos argumentaram, ao longo dos anos, que a linguagem vem antes que a realidade, ou seja, linguagem cria mundos. Kant já tinha provocado com atrevimento que não temos como conhecer a “realidade”, já que ela sempre passará por nossos filtros. E assim parece ser mesmo: criamos nossos mundos a partir do que pensamos e compomos simbolicamente, apesar de que uma certa “realidade” parece influenciar também nossos conceitos. Seria um movimento de mão dupla, mas na hora de criar nossos contextos, é o nosso pensar aliado à concepção de símbolos e histórias, que modelam nosso fazer, que por sua vez constrói nossos mundos.
Por isso é tão importante trabalhar a narrativa da própria história no processo de coaching. Quando o coachee narra sua história, está atualizando seu existir no mundo, ressignificando sua trajetória com suas lentes e modelos mentais atuais. E isso é estimulante! Ao dar um novo sentido à sua vida a partir de seu momento atual, ele está, também, abrindo novas possibilidades.
Este fenômeno vem a confirmar o principio do existencialismo, concebido por Sartre, Camus e outros pensadores, que defendiam que o ser humano se faz a partir de sua vontade individual, sua intenção e seu fazer. Heidegger também enriqueceu esse princípio, ao cunhar seu termo Dasein, que significa o “ser sendo”, ou seja, o ser que vai se fazendo, momento a momento. A cada ato do pensamento, da linguagem simbólica e do fazer que se desprende destes, a identidade do indivíduo vai se completando, ampliando, ganhando novas formas.