Em um dos mais instigantes filmes da Nouvelle Vague, “Viver a Vida”, de Godard, presenciamos Sartre na voz da protagonista Nana, quando na célebre cena do café, assim replica: "Acho que sempre somos responsáveis pelas nossas ações. Somos livres. Levanto a minha mão: sou responsável. Viro minha cabeça à direita: sou responsável. Sou infeliz: sou responsável. Fumo um cigarro: sou responsável. Fecho meus olhos: sou responsável. Eu esqueço que sou responsável, mas eu sou.”
Segundo Sartre, somos responsáveis pelas nossas ações pelo fato de que “o homem é condenado a ser livre”; logo, está fadado a assumir todas as consequências de suas ações. Estar ciente desta responsabilidade é um importante alicerce que move o processo de coaching em seu tripé consciência-responsabilidade-aprendizagem. Este artigo almeja elucidar certo momento em que os indivíduos, ao buscarem o coaching, deparam-se com a quebra da transparência em virtude de algum acontecimento que os faz observar a vida de modo mais atencioso, perpassando os momentos de conversa entre coach e coachee de modo a estabelecer "gatilhos" para ações que "despertem" a consciência e vontade de potência humana para um viver mais refletido, mais ético e, definitivamente, mais responsável.
Encontrar-se no meio do caos, sem saber para onde seguir, é um momento primoroso para a reflexão e chamada de responsabilidade para determinado problema que se revela impossível, escasso de possibilidades. O momento caótico torna-se extremamente fértil, uma vez que permite-se ver a quebra da transparência, ou seja, o indivíduo almeja observar sua vida não mais de maneira automática, inconsciente, mas de modo consciente, querendo então lidar com a situação proposta. Esta quebra do automatismo é denominada de “quiebre”, fenômeno existencial do ser humano que o permite visualizar algo que precisa ser transformado e assim exercer uma mudança em determinado aspecto da transparência que permeia sua vida.
Reconhecer e declarar um “quiebre” é um fator fundamental para um ganho de consciência, fazendo com que o indivíduo sinta-se responsável pelo seu processo de aprendizagem. Um meio de lidar com este “quiebre” está justamente no processo de coaching, em que através de conversas qualificadas, coach e coachee podem pensar juntos e assim encontrar estímulos que se transformem em ações.