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Edição #58 - Março 2018

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Por uma teoria do Coaching

Perguntar-me-ão: qual é a sua teoria? Responderei: nenhuma. E é isto que me dá medo: gostariam de saber qual é a minha doutrina, a fé que é preciso abraçar ao longo deste livro.” (O demônio da teoria, Antoine Compagnon, 2010, p. 23)

Como é possível falar de uma teoria do Coaching? É esta a pergunta que revisito em minha prática profissional, sempre com um olhar crítico contagiado pela Literatura, minha formação de base. Semelhante a esta, o Coaching é transdisciplinar e convida a uma atitude interrogativa, ao questionamento de pressupostos, ao passeio por um campo repleto de armadilhas feitas de palavras.

Armadilhas porque palavras podem conduzir a categorias, e o problema das categorias é criar estereótipos, daí o perigo e o medo mencionado na epígrafe. Estereótipos, por seu caráter fixo, encerram discussões, generalizam, padronizam, contam histórias incompletas[1]. Declarar hoje “ser coach” é desenhar alguns contornos para si próprio e para os olhares do mundo sobre si. A problemática se agrava quando se adota como “sobrenome”, complemento da profissão, o selo da escola de formação e/ou quando se estabelece a necessidade de um nicho de mercado: contorno do contorno do contorno, cujas premissas raramente são questionadas. Retorna-se, assim, às disputas escolares e universitárias semelhantes às de times de futebol: debates dicotômicos de melhor versus pior que incluem métodos, técnicas e os personagens envolvidos.

Minha intenção diante deste cenário é abrir espaço para discutir pontos de partida em comum, apelar à teoria como quem analisa a prática do Coaching, almejando uma consciência crítica do Coaching. Faço uso da definição de teoria da literatura de Compagnon para refletir sobre uma possível teoria do Coaching: “Não se trata, pois, de fornecer receitas. A teoria não é o método, a técnica, o mexerico. Ao contrário, o objetivo é tornar-se desconfiado de todas as receitas, de desfazer-se delas pela reflexão.” (Compagnon, 2010, p. 24).

Se há teoria quando as premissas dos discursos ditos senso comum são questionadas, façamos um exercício teórico sobre algumas noções fundamentais, que unem os profissionais sob o “guarda-chuva” do Coaching. Muito já se discutiu sobre “o que é”, a natureza do Coaching enquanto metodologia transdisciplinar ainda em processo de estabelecer sua credibilidade (Souza, 2013, p. 41; Stober; Grant, 2006). Disciplinas que incluem bases teóricas de diversas áreas: Filosofia, Linguística, Educação, Psicologia, Comunicação, Antropologia, Administração e Esportes (Brock, 2008), sobre as quais não é possível se debruçar, muito menos com profundidade, em poucas horas de formação. Como mencionei antes, aqui discuto a partir da perspectiva humanista, tendo como principal base teórica a Literatura (com ramificações pelas áreas da Educação, da Filosofia, da Linguística e da Comunicação). Entendo o coaching como uma metodologia voltada ao desenvolvimento humano em suas diferentes expressões privadas e públicas: pessoal (individual – íntima; plural – relacionamentos), profissional (individual; plural – em times, organizações, sociedade etc.). Antes de mudar, transformar o indivíduo ou o grupo, acredito que o Coaching promove a humanização destes. Isso porque os encontros ou sessões de Coaching, como os entendo e pratico, não se prestam apenas à aquisição de conhecimentos e competências, mas à expansão da consciência, da percepção de mundo interior e exterior, ou seja, a uma experiência de ser humano com foco em uma questão específica, explorando dimensões discursivas, emocionais, psicológicas, para resultar em ação(ões) no mundo. Nesse sentido, se o Coaching só se estabelece na relação entre seres humanos, denominados coach e coachee, penso que um dos questionamentos importantes para uma teoria do Coaching seria a reflexão em torno do conceito de ser humano. Para isso, recorro a Humberto Maturana, que propõe olhar para a dinâmica da especificidade desse ser como organismo vivo, diferenciado pela capacidade de reflexão e pela linguagem que promove uma experiência do viver tipicamente humana. Ele afirma que:

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