O coaching pode, sim, atender muitos interesses.
Era comum, quando criança, que a minha mãe me levasse ao cinema. Ela gostava muito da sétima arte, especialmente dos filmes policiais. Lia livros da Agatha Christie, não perdia um capítulo das aventuras do Ellery Queen na televisão, e foi com ela que aprendi a também gostar de tudo isso. Mas naquele dia aconteceu algo diferente: meu pai quis me levar ao cinema. Isso não era comum. Fiquei, claro, alegre. Estava em cartaz “Isto É Pelé” um documentário dirigido por Luiz Carlos Barreto e Eduardo Escorel. Era a década de 70, e meu pai se esforçava para estreitar nosso vínculo.
– Como queria ser filho do Pelé – eu disse para ele ao voltar para casa.
Tinha ficado impressionado com a habilidade do rei. Como eu queria poder driblar dessa maneira, deixar os outros jogadores para trás, brilhar nos gramados, viajar o mundo e ter meu nome gritado por milhares de pessoas nas arquibancadas. Sendo filho do rei, pensei, seria bem mais fácil atingir esses objetivos.
– Mas Pelé não era filho de Pelé – disse meu pai sabiamente.
Cada vez que lembro disso, posso sentir que também houve uma certa decepção nele. Era a primeira vez que me levava ao cinema. Queria estabelecer uma conexão diferente comigo. Mas eu quis ser filho do Pelé. Quis pegar um atalho.
Atalho é algo que um processo de coaching não ensina. Segundo o dicionário, um atalho é um caminho secundário que evita rodear pelo caminho principal e permite encurtar caminho ou chegar mais rapidamente a um lugar. Em qualquer processo decente de coaching esse não é o objetivo principal.
No decorrer da vida, é claro que encontramos e pegamos atalhos. Vários deles podem ser muito adequados para nossas necessidades. Mas não é a serviço de acharmos atalhos para atingir nossos objetivos que um processo de coaching está.
Aprendizado. Expansão da consciência. Auto responsabilização. São esses os resultados que um bom processo de coaching deve entregar para o coachee. E, não raro, o coach acaba também adicionando mais desses ganhos para si a cada processo.
Nestes tempos, é muito relevante fazermos a pergunta: a serviço de que está um processo de coaching então?
Para que? Para quem? Quem se beneficia? O que cabe dentro?
São perguntas sobre as quais vale refletirmos, e para as quais pensamos que poderiam existir várias respostas, dependendo do ponto de vista. Mas existe algo primordial que não podemos negar. Antes, porém, de responder, gostaria que refletíssemos sobre algumas coisas que são, e outras que não são, bases de um bom processo.