Inicio este artigo contando a história apresentada pelo mediador e antropólogo Willian Ury em uma de suas palestras sobre uma experiência com grupos de San Bushmen, na África do Sul, uma comunidade de “caçadores e coletores” que se utilizam de flechas envenenadas, absolutamente fatais, para sua caça. Ury tinha curiosidade em saber como eles lidavam com suas diferenças, com seus conflitos. Aprendeu que quando os ânimos se exaltavam nesta comunidade, alguém escondia as flechas envenenadas na mata e todos sentavam em círculos e conversavam, conversavam e conversavam e não desistiam até que encontrassem uma solução, uma reconciliação e, se ainda assim, alguém se mantivesse exaltado eles o mandavam em alguma viagem, visitar algum parente, por algum tempo até que pudesse se acalmar e retornar e aprender. A isto chamamos “Conflitos Positivos”.
Vivemos um tempo de transição que nos tem obrigado a rever nosso modelo de relação com o mundo, com as pessoas e conosco mesmos. Somos provocados diariamente a reconsiderar uma certa forma linear de pensamento para uma abordagem sistêmica e complexa de lidar com as situações mais rotineiras.
Nas organizações, os tempos parecem ainda mais desafiadores. Um ambiente de incertezas, ambiguidade e complexidade, no qual se tem que lidar com um alto nível de estresse cotidiano, numa busca frenética pelo atingimento de mais resultados no menor tempo possível, pode contribuir imensamente para uma incapacidade de relacionamentos conectados e autênticos.
Nesta emergência, na qual parece não haver mais o tempo da Presença, da Reflexão, do Diálogo ou da Empatia, nos perdemos em nossos sentimentos, expectativas, julgamentos, necessidades, percepções e ações, de tal forma que, inadvertidamente, a melhor escolha parece ser a de negar esta “confusão” criando ainda mais espaços de ataque, fuga e paralisação.
Vivemos ainda hipnotizados pela tecnologia, que nos permite estar em vários lugares ao mesmo tempo. Tudo é muito rápido. Distanciamento, individualismo, superficialidade nas relações, ilusão de que somos separados uns dos outros. Enfim, são muitos os facilitadores de relações conflituosas.