“Todo filósofo tem duas filosofias: a sua e a de Spinoza.”
Henry Bergson
Spinoza, um homem fora de seu tempo
Imagine-se conduzindo uma reunião de trabalho quando um de seus colaboradores começa a versar sobre acontecimentos que envolveram ele e um gestor do departamento onde você ocupa um cargo de liderança. A emoção gradativamente vai sequestrando-o, e dentro de pouco tempo, os demais colegas de trabalho presentes na reunião passam a demonstrar certo desconforto com a situação. Qual seria a sua atitude? De que maneira você acredita que um líder coach deveria proceder em ocasiões onde a emocionalidade passa do estado latente para a mais franca expressão? Como você acredita que os afetos devam ser encarados no ambiente de trabalho? E em encontros formais de Coaching, qual deve ser o procedimento do facilitador quando a emocionalidade do cliente se torna soberana? Há quatrocentos anos ainda não existia o que chamamos atualmente de mundo corporativo. Todavia, sequestros emocionais dessa ordem já se manifestavam, ainda que em outras esferas. Nesta época, onde a crença na racionalidade atingia seu ápice, um homem ousou problematizar os afetos como poucos haviam feito anteriormente. O nome desse homem? Baruch Spinoza.
Spinoza (1632 – 1677) é um autor do século XVII. Sua vida foi breve e suas contribuições para o pensamento humano foram grandiosas, apesar de ter vivido somente quarenta e cinco anos. Spinoza passou praticamente toda a sua vida na cidade de Amsterdã, na Holanda. Nascido no seio de uma família de judeus religiosos que foram expulsos de Portugal pela inquisição, Spinoza teve uma sólida formação teológica estabelecida no judaísmo, ainda que tenha se tornado célebre pelo fato de seu pensamento se afastar sobremaneira do pensamento monoteísta religioso. Suas ideias são fundadas no materialismo, sua Filosofia contradiz sua formação teológica, e sua vida nega as expectativas que sua comunidade lhe outorgou. Percebe-se que muito além das escrituras religiosas, Spinoza teve contato com outros pensadores que o levaram a ter ideias na contramão de sua formação judaica. Dentre os temas pelos quais Spinoza nutriu interesse durante sua curta vida, pode-se destacar: matemática, mecânica, gramática, hermenêutica, literatura clássica, história, literatura política e literatura espanhola. Os autores que constavam de sua biblioteca particular na época de sua morte eram: Cícero, Virgílio, Sêneca, Plínio, Julio César, Ovídio, Aristóteles, Tácito e principalmente Hobbes e Descartes.