“Sou apego pelo que vale a pena e desapego pelo que não quer valer”.
Clarice Lispector
Em continuação ao tema do artigo anterior, onde abordei o desapego sobre os resultados como o segredo para se chegar a eles, neste artigo quero refletir sobre outro tipo de desapego – aquele relacionado à nossa maneira habitual de agir e de pensar. Todos nós temos uma natureza particular, uma visão de mundo individual determinada por nossos modelos mentais. Agimos e pensamos de acordo com nossas crenças e valores e para cada um de nós, nossa maneira habitual de agir e pensar é o certo. Mas, em determinadas situações, nossos modelos mentais não são suficientes ou adequados para dar conta das respostas que precisamos dar às situações específicas da vida. Quando as pessoas se tornam rígidas ou se dizem insatisfeitas com a carreira, com a empresa, com relacionamentos afetivos, o que as impede de mudar? Talvez o medo, a esperança de que as coisas (ou as pessoas) possam melhorar; insegurança com relação às próprias competências, incertezas sobre o futuro ou comodismo. Particularmente penso que, muitas vezes, essas justificativas estejam relacionadas com algo ainda mais profundo e que raramente paramos para refletir. O quanto estamos apegados a padrões habituais de pensar e agir? O quanto estamos apegados a situações e pessoas, mesmo aquelas que nos geram desconforto e sofrimento? Aqui está, em minha opinião, a verdadeira causa da dificuldade que temos em promover mudanças – o apego.
Muitas vezes somos apegados a crenças e pensamentos, mesmo aos pensamentos negativos e disfuncionais. Quantas vezes você já se pegou incomodado por causa de um pensamento sem querer tê-lo? Parece que ele tem vontade própria e insiste em permanecer na mente. De fato, tudo é desenvolvido na mente e o que importa é ter a noção de que você não é o seu pensamento. Seja capaz de não se identificar com os “pensamentos intrusos” que te incomodam e não se deixar perturbar, principalmente com os pensamentos que não estão de acordo com os seus valores e propósitos de vida. Não se trata de ignorar os pensamentos, até porque eles têm a função de nos fazer conectar com determinados sentimentos, interesses e preocupações, mas aprender a observá-los, sem julgamento ou ação. O que pode contribuir para esse processo é desenvolver a habilidade de descrever para si mesmo, o que sente e quais pensamentos estão presentes na sua mente. Com essa prática você irá perceber que, ao mesmo tempo em que você observa os seus pensamentos e os sentimentos, alguém observa sua experiência e esse alguém é você mesmo. Se você observa os seus pensamentos e sentimentos, com desapego, deixa de se identificar com eles, desenvolvendo autocontrole e uma sensação de liberdade interna. Você é quem decide se o que passa pela mente serve ou não serve.