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Edição #23 - Abril 2015

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Foco em resultados? O segredo é o desapego.

“A renúncia é a libertação.
Não querer é poder”.
Fernando Pessoa

Agenor é o CEO recém-empos­sado da empresa de sua famí­lia. Há anos, uma disputa pela direção da empresa entre os irmãos de Agenor e seus pri­mos e tios levaram a empresa a serias dificuldades. Agenor vê-se diante de um di­lema que o perturba há meses, sendo pressionado para tomar uma decisão importante e ir­reversível que certamente vai gerar prejuízos severos para seus primos e tios, mas é a úni­ca esperança de sobrevivência e manutenção da empresa e preservação dos cerca de seis mil postos de trabalho.

Desesperado, resolveu consul­tar seu velho amigo Kris, que foi seu mentor anos atrás. Kris foi um alto executivo de multinacional, conheceu di­versos países liderando pro­jetos de expansão e por ter vivido em várias culturas, aprendeu e absorveu ricos conhecimentos que contribuí­ram para ampliar sua visão de mundo e qualidade pessoal. Com essa experiência, Kris se tornou um homem muito sá­bio, sensível e visionário, des­frutando de ótima reputação e respeito do mercado. Kris tem uma capacidade especial de enxergar o que ninguém mais consegue ver e por isso, Agenor foi consultá-lo.

- Amigo Kris. Estou deses­perado, minha energia e de­terminação desapareceram e não sei o que fazer. Sinto medo. Meus tios e primos foram negligentes por anos com a administração da em­presa e agora volto como CEO, para colocar ordem na casa. Preciso tomar uma deci­são que inevitavelmente trará prejuízos para eles. A pressão está muito grande e já tive vontade de desistir de tudo. Não sei o que devo fazer, por favor, me ensine.
- Agenor, sua conduta não é compatível com a posição que ocupa. Sua fraqueza é irres­ponsável. Compreendi que, na vida e nos negócios, ganhar ou perder é a mesma coisa e você deve também aprender a agir sem pensar no resultado da ação. Procure o desapego e faça o que precisa ser feito. Não confunda desapego com irresponsabilidade, pois a res­ponsabilidade pelo resultado continua sendo sua. Você tem que agir, mas não deixar o apego pelo resultado te dominar. No coração da ação você deve sentir-se livre de todo apego, de acertar ou er­rar, de ser vitorioso ou não.
- Kris, como posso fazer o que me pede? Sou um executivo obstinado e determinado, mas sinto minha mente turbulenta e que busca o resultado posi­tivo sempre. É impossível con­trolar esse meu ímpeto. Quero fazer a coisa certa, sempre.
- Agenor, fazer a coisa certa não tem nada a ver com isso. Você precisa aprender a olhar os eventos sem qualquer jul­gamento ou apego. Se conse­guir enxergar com os mesmos olhos um monte de terra ou uma pilha de ouro, uma pes­soa ou um animal, você conse­guirá enxergar as coisas além das aparências e perceberá que existe outra inteligência além de sua própria mente e além de você mesmo.
- Kris, me desculpe, mas isso me parece metafísico demais. Respeito e reconheço que esse seu posicionamento e visão de mundo te levaram a um enor­me sucesso e isso é um tanto paradoxal para mim. Lembro­-me do quanto você era des­pojado e leve em sua conduta como executivo e mesmo assim alcançava resultados extraor­dinários. Mas sinto que meus desejos para ter êxito, para que tudo dê certo me arrastam o tempo todo, e não me sinto fe­liz. Como posso encontrar essa inteligência que tanto fala?
- Agenor, você precisa apren­der a olhar pra dentro de si e perceber que tem pouco ou nenhum controle sobre o que acontece no mundo e com você mesmo. Compreender a si mesmo é a única saída. Há uma batalha muito mais intensa aí dentro, que não tem nada a ver com o conflito em sua família. O seu verdadeiro campo de batalha está dentro de você. Domine seu espírito, destrua sua ganância. Quando não mais ansiar pelos resultados, eles virão. Não percebe que a ânsia pelo sucesso mais o afasta dele do que o aproxima? Se concen­tre em agir com toda a compe­tência que tem à sua disposi­ção, foque na ação e desapegue dos resultados, pois não impor­ta se terá reconhecimento ou não, se vai ganhar ou perder. Resultados são apenas conse­quências das ações bem feitas e estão no campo da probabili­dade. Você perceberá que sua felicidade e paz não dependem de conseguir algo ou chegar a algum lugar, mas de agir. O sentimento de dever cumpri­do e de servir a um propósito legítimo te conecta com o fluxo da vida. Aprenda a ter uma ex­pectativa apropriada sobre suas ações, foque em fazer tudo com capricho, atenção, compro­misso, amor e com uma visão clara de onde quer chegar. Apenas isso.

Em 2010 tive a oportunidade de conhecer e conversar com Dan Millman, autor do livro “O cami­nho do guerreiro pacífico”, que inspirou o filme “Poder além da Vida”, que conta sua história real de superação. Dan foi um atleta de argolas, extremamente ta­lentoso e com um futuro pro­missor. Assim como boa parte dos atletas, tinha um objetivo muito claro e quase obsessivo – ganhar o ouro numa olimpíada. Apesar do talento e do amor pelo esporte, Dan possuía um temperamento instável, ego­cêntrico e arrogante. E quando sofreu um acidente de moto que o afastou dos treinos, en­trou numa profunda depressão e crise pessoal. No filme, co­nhece o personagem Sócrates, um homem simples com uma sabedoria incomum, que inicia um intenso treino mental para ajudá-lo a promover a trans­formação pessoal que precisa. Sócrates tem meios fora do comum de ensinar e numa de suas lições, Dan tem um insi­ght de que a “felicidade está na jornada, não no destino” e começa a mudar sua história. A cena final retrata o ápice desse aprendizado, quando de volta a uma importante competição, a voz de Sócrates em sua men­te lhe faz três perguntas: “- Dan, onde você está? Que horas são? O que você é?” e Dan responde respectivamente: “- Aqui, agora e este momento.” e alcança a ma­estria. Na oportunidade de nos­so encontro, perguntei a ele so­bre Sócrates e sua resposta foi: “- O Sócrates no filme represen­ta os inúmeros mestres, conse­lheiros e coaches que tive em minha jornada, mas também a voz de meu 'sábio interno', que descobri ao desenvolver a habilidade de olhar para dentro de mim e procurar as minhas próprias respostas. É como se Sócrates fosse o Dan no futu­ro, em seu estado de máxima maestria”. Assim como Agenor e Dan Millman, boa parte das pessoas procuram processos de Coaching para alcançar um objetivo específico, promover mudanças pessoais ou desen­volver competências. O coach ajuda a estabelecer metas, mé­tricas, indicadores e processos que ajudarão o cliente a chegar onde quer. Mas não é apenas ter clareza sobre a meta que garantirá alcançá-la (e não há garantias), mas sim a qualidade da ação, das reais motivações e do senso de significado clari­ficado que o objetivo lhe traz. Quantos de nós já vivemos si­tuações como a de Agenor ou do próprio Dan? Dúvidas sobre a própria competência, questio­namentos sobre o próprio fu­turo, avalanches de cobranças externas e internas, ansiedade e expectativas nas alturas que frequentemente questiono se esse é um caminho saudável para a realização pessoal. In­felizmente, esse assunto me traz lembranças sobre a Copa do Mundo do Brasil de 2014. Então, já peço desculpas ao leitor se trago lembranças não muito saudosas. O resultado é bem conhecido, mas será que temos clareza sobre o conjunto de ações, escolhas e posturas de cada uma das duas seleções? O que o ocorrido na Copa e as histórias acima têm de aprendi­zados para nossa vida prática? Como nos portamos e qual o impacto que sofremos ao nos submetermos a uma cultura orientada quase que, exclu­sivamente para o resultado? Os atletas brasileiros tinham diante de si uma enorme res­ponsabilidade. Impuseram-se a obrigação de ganhar, tanto pela enorme expectativa do público quanto pela pressão interna de conquistar a Copa em seu país. Foram, talvez, excessivamente apaixonados, extremamente disciplinados nos treinos, se exaltaram diante do público também emocionado. Foi lindo de se ver, sem dúvida alguma. Mas sucumbiram à alta expec­tativa e pressão por ganhar. Por outro lado, os atletas ale­mães reconhecidos pelo rigor e perfeccionismo, tiveram uma conduta distinta e surpre­endente. Instalaram-se num paraíso no litoral da Bahia, desfrutaram da conexão com a natureza e simplesmente adotaram uma conduta de des­pojamento, simpatia, moderni­dade e leveza. Talvez tenham entendido a essência da ideia de que a felicidade está na jor­nada, não no destino. Joachim Low foi um líder que conseguiu gerar coesão, paixão e alto desempenho em sua equipe, adotando métodos nada con­vencionais. Além do longo e sólido trabalho técnico que fez com a equipe, é sabido que complementou o treinamento de seus atletas com yoga e meditação e talvez isso tenha contribuído para o bom geren­ciamento da ansiedade.

É fundamental compreender a relação causal entre ação e resultado. O foco no resultado mantém a conexão com a visão de futuro que desejamos, nos inspira a dar o melhor, mas o resultado só é viabilizado por ações bem feitas. O segredo talvez esteja em não deixar que o foco no destino nos dis­traia durante a jornada. 

Albert Einstein disse:

“Penso noventa e nove vezes e nada descubro; deixo de pen­sar, mergulho em profundo si­lêncio – e eis que a verdade se me revela”.

Que o desapego te ajude a ser cada vez melhor.

Artigo publicado em 30/06/2017
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