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Edição #23 - Abril 2015

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É TEMPO DE PENSAR O TEMPO e encarar com coragem o eterno retorno

Seja bem vindo(a), caro(a) colega. Hoje versaremos sobre o impacto da Filosofia Cristã em nosso pensar, e travaremos contato com Agostinho, um pensador encantador que, entre outros assuntos, nos presenteia com uma rica e singular visão sobre o tempo, assunto caro e recorrente nos processos de Coaching. Platão e Aristóteles, dois gigantes do pensamento humano, têm, cada um à sua maneira, uma concepção relativamente fixa do lugar do ser humano no universo. Platão acredita que nascemos com almas distintas e que por isso temos que exercer funções distintas, cabendo àquelas poucas almas que pensam bem, comandar e dirigir a cidade. Já Aristóteles acredita que diferimos sobremaneira quanto às nossas virtudes e que a vida boa é aquela que podemos viver em sintonia com nossos talentos naturais, o que só acontece quando estamos encaixados no cosmos. Os filósofos da escola estoica, apesar de diferir de Aristóteles em alguns quesitos, dividem com este filósofo uma ideia similar de vida boa, ou seja, de ética. Dessas concepções de pensamento grego originou-se a noção de divino. O divino para o povo grego antigo é um tipo de harmonia entre as coisas do universo. O divino é o cosmos; a justaposição das partes com vistas ao bom funcionamento do todo, e o acesso a esse divino somente pode ser feito por meio da razão. Sendo assim, para o grego antigo, o homem não é livre para escolher seu lugar nem tampouco sua vida. Os seres humanos são fundamentalmente diferentes e a concepção do universo é fixa e obedece a uma hierarquia dos seres. Todavia, a filosofia grega foi bastante impactada com a chegada do cristianismo, pois algumas das ideias de Cristo nunca tinham sido aventadas na história do homem. A Filosofia Cristã mudou a concepção sobre a vida. Agora é imperativo crer que todos são parecidos com Deus em algum aspecto, e este Deus substitui gradativamente a ideia de divindade como adequação das partes ao todo. Deus criou o homem e concedeu-lhe um tempo para desfrutar da sua vida mortal. Cabe ao homem inventar a sua própria existência; fazer uso de seu tempo da melhor forma possível, transcendendo a sua natureza, não por meio da razão, mas da fé. Liberdade, igualdade e fraternidade são valores que têm hora marcada para surgir, e surgem com Cristo, pois antes dele tais conceitos eram inexequíveis, pois não acreditávamos poder ser livres, nem iguais e muito menos irmãos. Como somos livres, podemos deliberar de maneira não coercitiva a forma como desfrutaremos de nossa fugaz temporalidade. Nascido no ano de 354, em Tagaste, norte da África, Agostinho é um dos mais exuberantes pensadores cristãos, e é em sua obra "Confissões" que este filósofo pensa o tempo: “O que é, por conseguinte, o tempo? Se ninguém perguntar, eu sei; se quiser explicá-lo a quem me fizer a pergunta, já não sei” (AGOSTINHO, 2011, p.295- 296). Agostinho segue em seu raciocínio e afirma que o passado e o futuro não existem, pois, quando olhamos para o passado, ele já não é mais, pois se transmutou em memória. Já quando procuramos o futuro, ele ainda não chegou, sendo somente uma mera esperança ou nada mais do que uma expectativa. Sendo assim, somente o presente existe, e o tempo seria uma criação da mente humana. Agostinho é o primeiro pensador com prioridades: no presente ou no futuro, uma vez que o passado já se foi. Agostinho é ainda mais radical, e afirma que nem o futuro nem o passado existem, pois o futuro não é e o passado já foi. Sobra-nos somente um presente, fragmentado em três partes: Presente do passado - passado presentificado -; presente do presente – presente -; futuro do presente - futuro presentificado. Estes são os tempos de nossa alma. Todavia, nem sempre os tempos de nossa alma estão alinhados com o tempo das coisas do mundo; com o tempo do relógio, uma vez que no mundo só existem instantes e na alma, existe presente do passado, presente do presente e futuro do presente. Com isso, Agostinho já nos alertava sobre uma potencial relação de conflito entre o tempo do mundo e o tempo da alma, pois a definição das cadências existenciais da sociedade é primazia daqueles que detêm o poder e suas decisões nem sempre estão em sintonia com os tempos de nossa alma, com a cadência que mais alegra nosso ser. Pense bem caro(a) leitor(a), os relógios das cidades sempre estão alocados nos edifícios que ditam a cadência da vida: Igrejas, Fóruns, Prefeituras, ou seja, instituições e organizações que, por serem coletivas, quase nunca se preocupam com a nossa subjetividade, pois o tempo de nossa alma nem sempre está alinhado com o tempo do coletivo, com aquilo que esperam de nós, com a forma como almejam que cadenciemos nossas trajetórias existenciais.

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