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Edição #22 - Março 2015

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Epicuro, o coach da simplicidade, não tem iPods, não precisa de iPads e está feliz com seu aipim...

Depois da riqueza de pensamento dos pré-socráticos e da exuberância filosófica de Sócrates e Platão, versamos, em nosso último encontro, sobre a sofisticada proposta ética de Aristóteles, o terceiro filósofo da linhagem socrática. Posteriormente ao período aristotélico, a filosofia tornou-se cada vez mais popular na Grécia, e passou, inclusive, a ser praticada nas ruas de Atenas com bastante constância.

É possível ler no texto bíblico que o apóstolo Paulo foi para Atenas e encontrou filósofos debatendo ideias em uma arena da cidade. O próprio São Paulo proferiu o seu discurso tendo os filósofos das escolas estoica e epicurista como ouvintes. Essas duas escolas duraram mais de cinco séculos e se prolongaram durante todo o império romano. Todavia, neste momento, interessa-nos versar sobre as ideias filosóficas de Epicuro (341 a.C – 270 a.C), correlacionando seu pensamento – como tem sido nossa proposta - com o exercício do coaching e as práticas de liderança.

Epicuro nasceu na Ilha de Samos e em 306 a.C. fundou em Atenas a sua escola filosófica que ficou conhecida como O Jardim. Lá, Epicuro residiu com seus amigos, inclusive alguns escravos, lecionando filosofia até sua morte. Conta-se que sua vida foi marcada pelo ascetismo, pela serenidade e por uma doçura contagiante. Seu texto mais famoso é Carta a Meneceu ou Carta sobre a felicidade, onde, assim como os outros textos filosóficos citados nesta coluna, apresenta sua visão de vida boa. Todavia, é necessário relembrarmos que a filosofia é um saber bastante distinto do senso comum, pois os filósofos se esforçam para amparar suas conclusões em premissas sólidas, construindo seus argumentos de maneira que suas opiniões sejam, ao menos, justificadas por encadeamentos lógicos de ideias, o que muitas vezes não vemos nas propostas advindas da autoajuda.

Você se lembra da pergunta mais importante da ética, caro (a) leitor (a)? Quando a vida vale a pena? Quando o mundo é bom?

A vida boa para Epicuro tem como base o prazer. É alicerçada no hedonismo (do grego hedonê, “prazer”). Para nosso filósofo Epicuro, a vida é boa quando é prazerosa! O prazer é a chave da ética epicurista/hedonista. Para Epicuro, a busca do prazer é a condição e a definição da própria felicidade.

Pare por um instante e pondere, caro(a) colega, você conhece alguém que sonha com uma vida de desprazer? Você abdicaria do prazer em sua vida? Se você pudesse escolher entre ter uma vida com muitos encontros que lhe proporcionassem prazer e uma vida com menos encontros prazerosos, com qual vida ficaria? Pois é, parece que a resposta é óbvia. Contudo, o prazer de Epicuro em nada se parece com o hedonismo pós-moderno pautado no consumo desenfreado; no desejo pelo carro do ano; no afã incontido pela posição de liderança na empresa; na aspiração de morar em uma mansão em Ipanema ou na Vila Madalena; na busca por títulos de mestrado e doutorado, mesmo que não se tenha inclinação acadêmica alguma para isso; no louco desejo de sucesso e glória profissional etc. O prazer que fundamenta a ética epicurista é bastante diferente, pois se funda em conservar a capacidade de ter prazer com coisas simples. A grande arte da vida está em continuar a ter prazer com coisas singelas, pois, para Epicuro, na medida em que vamos vivendo, corremos o risco de sofisticar nossos gostos em demasia, a ponto de tornar nossos desejos tão elaborados, que mesmo com bons recursos financeiros, podemos diminuir sensivelmente nossas chances de satisfazê-los, uma vez que estes vão se tornando cada vez mais raros, infrequentes. A vantagem em continuar sentindo prazer com as coisas simples é óbvia e lógica: as coisas simples são mais facilmente encontradas no mundo. As coisas sofisticadas - ainda que se disponha de recursos para obtê-las, são de difícil acesso. O prazer é muito mais provável de ser encontrado nas coisas simples, desde que não tenhamos sido vítimas das sofisticações inconsequentes de nossos quereres. Pense, por exemplo, nas elaboradas refeições da alta gastronomia. Para quem aprendeu a saborear ervas finas, carnes raras e vinho croata safra 1966, obter prazer com o PF do bar do Zé e um bom copo de coca-cola zero safra março de 2015 é praticamente um disparate. Todavia, ainda que possas ter recursos para satisfazer teus apetites, nada garantirá o encontro prazeroso do amanhã, pois, as ervas, de tão finas, são também escassas, e o vinho, de tão raro, pode ser alvo de paladares mais astutos e ligeiros que o seu, e quando chegares, o vinho já pode ser lembrança.

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