Felipe, um menino com três anos de idade, depois de discutir com o primo por causa do uso de um brinquedo que ambos queriam, e não conseguindo apoio dos adultos na sala de estar, entocou-se no quarto. Era um dia festivo e a casa estava cheia de parentes e amigos, e primos seus de idade próxima. Na sala havia um lanche delicioso sobre a mesa, sorrisos, conversas e brincadeiras, mas Felipe manteve-se emburrado dentro do quarto por algumas horas. Notando sua ausência, uma de suas tias foi até ele e, vendo-o sentado na cama sozinho de braços cruzados, com face vermelha e fazendo beicinho, lhe fez a seguinte pergunta: “- O que você está sentindo, meu querido?” A resposta do garoto foi: “- Eu não sei não. Não sei o nome disso, tia.” E permaneceu com cara de zangado.
Imagina-se que dar nome a uma emoção, uma sensação ou um sentimento, seja para nós, adultos, mais fácil que para um garoto tão pequeno. Contudo, nós que já somos bem crescidos, também nos vemos costumeiramente com dificuldades nesse âmbito.
Tristeza, raiva, alegria, medo, dor, decepção, cansaço e impaciência, por exemplo, são palavras com as quais procuramos expressar os afetos que sentimos e, no momento em que os classificamos, podemos começar um processo de compreensão dos nossos estados interiores. Reconhecer e nomear já pode representar um caminho para uma mudança. Não saber ou não conseguir verbalizar os nomes desses afetos pode ser uma espécie de bloqueio que dificulta a administração do seu dinamismo em nós.
Quando alguém procura um coach, traz questões relacionadas à sua emocionalidade mesmo que não saiba nominá-las. E embora não seja uma das linhas de trabalho da maioria dos profissionais de coaching, quase todas as questões dos clientes têm repercussões no âmbito das emoções, podendo representar uma porta para que eles possam parir suas soluções.
Um caso elucidativo
Um coachee buscava obter maior organização no sentido da ampliação da sua empresa. Essa era inicialmente a sua demanda: aumentar rendimentos a partir da extensão do espectro de suas atividades. Curiosamente, só após três sessões, chegamos àquilo que mais o incomodava: administrar as emoções desencontradas em relação ao seu filho, que era um dos seus colaboradores, e cujo profissionalismo ele questionava. “- Se eu aumentar as responsabilidades dele,”- confessou – “- ele terá mais trabalho com o aumento do número de clientes e a qualidade do serviço ficará comprometida. Como eu vou dizer a ele que não confio em seu trabalho? Como vou falar que me sinto triste com sua inépcia e sua incompetência? Ele é meu filho e eu o amo.”
Percebendo os bloqueios que esse coachee tinha para falar sobre essas emoções comigo, imaginei o quão difícil era para ele expressar esses afetos para o filho.