Em nosso último encontro versamos sobre a importância de Sócrates e chegamos a afirmar que esse filósofo exerceu em seu tempo, algo muito parecido com o que hoje denominamos de Coaching, ainda que seus objetivos fossem distintos dos nossos. Todavia, sua filosofia chegou até nós por intermédio de seus alunos, e o mais renomado de todos eles foi, sem sombra de dúvidas, Platão. A filosofia platônica origina-se de uma vergonha, a injusta condenação à morte de seu mestre Sócrates em 399, na cidade de Atenas. A quase totalidade da obra de Platão é devotada à memória dos ensinamentos de seu professor, ainda que suas ideias e seu capital simbólico tenham ultrapassado em muito o legado de seu preceptor.
Para entender uma parte do pensamento de Platão é importante ter claro o que vem a ser o dualismo ontológico. Para Platão o homem é composto de duas substâncias distintas, o corpo e a alma. Contudo, temos que entender que quando Platão se refere à alma, não está fazendo alusão à alma cristã, pois viveu quatro séculos antes de Cristo. Alma, para o grego antigo, é sinônimo de pensamento. O corpo tem o atributo da sensibilidade - aqui compreendida como a percepção das sensações -, é desejante, têm pulsões, inclinações e é perecível. Já a alma tem o atributo da racionalidade, é inteligível, pensante, conjecturante, atemporal e eterna. Quando a alma pensante entra em contato com o corpo, tende a se esquecer das verdades universais que teve acesso naquilo que Platão chama de Mundo das Ideias, ou seja, um local metafísico onde não existem definições plurais, mas ideias perfeitas e eternas, que prescindem dos contextos e das circunstancias particulares de cada um de nós para existir. A Teoria das Ideias ou Teoria das Formas afirma que Formas ou Ideias abstratas imateriais são detentoras do tipo mais basilar da realidade, o que não acontece com o mundo material e impermanente experimentado por nós por meio da intermediação dos sentidos de nosso corpo. O corpo, não passa de uma caverna que obscurece a percepção da verdade, transformando-a em uma sombra disforme e lúgubre. Perceba, caro (a) leitor (a), os ecos de Parmênides nas ideias de Platão. Para Platão, as coisas captadas com os olhos do corpo são formas físicas impermanentes e volúveis que não refletem a verdade, e as coisas que captamos por meio dos olhos da alma são as formas metafísicas permanentes e, por esta razão, verdadeiras. Sendo assim, as Ideias são as essências eternas das coisas e das virtudes, tais como o bem, o belo, a justiça, a coragem, a amizade, a piedade, o amor etc. Se Platão fosse um coach, teria como principal missão auxiliar seu cliente/coachee a entrar em contato – por meio de um pensamento sofisticado e elaborado – com tais essências, pois somente assim poderia ajudá-lo a deliberar melhor suas ações. Todavia, provavelmente Platão seria coach de poucos, pois nutria a crença de que nossas almas não se equivalem, uma vez que, por natureza, algumas pensam bem e outras pensam mal. Aquele que nasceu com uma alma fraca, jamais conseguiria aproximar-se das verdades universais, e, sendo assim, deveria exercer outras atividades na cidade, abstendo-se de pensar e deixando ao filósofo a tarefa de refletir como deveriam ser as melhores ações com vistas à aquisição de uma cidade mais justa, honesta e boa de viver, ou mesmo, no atual contexto corporativo, a empresa boa de trabalhar.