Não vemos as coisas como elas são. Vemos as coisas como nós somos.
Talmude
No Reveillon de 2010, eu e minha família recebemos uma visita inesperada. Impedidos de viajar, devido à chegada de minha filha Lorena, que nasceu em 05 de janeiro de 2011, uma amiga veio jantar em casa na companhia de seu namorado indiano. Foi a primeira vez que o cidadão saiu de seu país natal e pudemos conviver por alguns dias. O primeiro choque ocorreu ao recepcioná-los na porta de casa, com o típico abraço brasileiro, longo e apertado, que dei em minha amiga e depois o abraço que minha mulher deu no indiano. O segundo durante a ceia, quando percebemos que nosso convidado não aproveitou da comida, pois parecia não saber utilizar talheres. Acabamos sendo insensíveis por não lembrar que os indianos costumam comer com as mãos e certamente, se lembrássemos desse detalhe, poderíamos tê-lo deixado mais à vontade.
Após o jantar, num dado momento, minha mulher com seu jeito extrovertido, convidou o indiano a tocar sua barriga para sentir a Lorena, ato que não chegou a realizar. Percebíamos e até nos divertíamos com seu constrangimento misturado com um “não saber o que fazer” diante de comportamentos tão diferentes e fora do comum para um indiano pouco acostumado com outra cultura.
Toda sua estranheza ocorreu devido às diferenças entre nossos modelos mentais. Diferentes modelos mentais motivam diferentes percepções, sentimentos, opiniões e ações. Em seu excelente livro "Metamanagement", Fredy Kofman traz um bom exemplo. O número 2.508.136 não significa muito em si mesmo. Mas torna-se significativo se antes dele aparecer o símbolo “R$” ou “US$”. O número não mudou, mas o contexto no qual o número adquire significado, muda radicalmente sua interpretação. O contexto pode influenciar o significado dos dados, porque a compreensão é um fenômeno em que captamos a situação como um todo e interpretamos as partes em relação a esse todo. Por isso, um número como 2.508.136 pode ter significados distintos para um contador, um CEO, um profissional de TI, etc.