“O truque da filosofia é começar por algo tão simples que ninguém ache digno de nota e terminar por algo tão complexo que ninguém entenda”
Bertrand Russell
A palavra Filosofia é originária do verbo grego philosophein, que significa amar - philia - a sabedoria - sophia - ou ainda, a busca amorosa pela verdade, dependente da corajosa reflexão e do pensar da pessoa acerca da vida, do mundo e do universo. Ajudar a pensar é função do coach, do professor, do líder, que provoca positivamente seu interlocutor para que este pondere os episódios de sua existência e de suas escolhas. Parte do nosso sucesso individual depende desta habilidade de conceder significado ao mundo que nos abarca, assim como aos encontros e às conjunturas que nos determinam. Alguns processos de coaching, se bem conduzidos, podem ajudar o cliente a determinar o que, onde, como e quando gostaria de realizar em sua vida, auxiliando-o a viver a vida boa, mas nunca garantindo a vida boa, a vida que vale a pena ser vivida. Logo, assumo a opinião de que alguns processos de coaching guardam em si o potencial de serem dinamizadores do pensamento ético, ou seja, da deliberação da melhor das vidas a ser vivida e, consequentemente, convivida. Todavia, é preciso cautela pois nem todas as práticas atualmente descritas como coaching têm sintonia com os pressupostos do exercício filosófico, onde se respeita o livre pensar e a livre escolha.
Conselhos advindos de “gurus” do mundo corporativo, algumas formas de consultorias, práticas new age, e até afirmações advindas da física quântica são comumente embaladas no mesmo pacote que hoje denominamos de coaching. Nesses casos, o coaching, pouca ou nenhuma relação guarda com a Filosofia e com as perguntas éticas:
O que é o bem?;
O que é o mal?;
O que deve ser feito?;
O que pode ser feito?;
O que fazer para viver bem?;
O que fazer para conviver bem?
Tais perguntas servem não somente para auxiliar-nos a viver melhor, mas principalmente a conviver melhor, e são indagações que se adequam aos diferentes contextos da existência humana. Costuma-se afirmar que o coaching é uma abordagem relativamente recente, muito embora, defendo a opinião de que Sócrates, há dois mil e quinhentos anos, assim como muitos filósofos que o seguiram, já exerciam com muita competência esta atividade. Muitas das demandas supridas pelas escolas de coaching já nos foram apresentadas no passado, com uma roupagem distinta e, na maioria das vezes, amparadas por uma argumentação mais sólida e muitas vezes, mais consistente. No entanto, sou levado a crer que o “modismo” do coaching pode demonstrar também um anseio das pessoas pela busca de sentido em suas vidas, uma necessidade de compreender melhor as nuances de seus processos deliberativos, de suas escolhas e dos reflexos dessas em suas biografias. O coaching, em algumas ocasiões, pode estar sendo usado como um tipo mais pop de Filosofia, pois está em um determinado momento, tornou-se tão acadêmica e hermética que perdeu sua função mais importante, que era a de ajudar o ser humano a pensar sua existência, amparando-o na escolha dos melhores caminhos a serem seguidos na busca por uma vida melhor.