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Edição #15 - Agosto 2014

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Cultivando hábitos de felicidade

“Para ser feliz, não tenha esperanças.” 
Carlos Legal 

Na cultura Sufi há diversas histórias deliciosas sobre um personagem co­nhecido por Nasrudin, um sábio do povo, aparentemente tolo, que provo­cava as pessoas à sabedoria com um espirituoso bom humor. Diz-se que numa delas, Nasrudin caminhava pelo mercado central da cidade, quando subiu numa pedra e começou a falar com as pessoas:

“- Ó povo deste lugar, querem prosperi­dade sem esforço, saúde sem disciplina e felicidade sem consciência?”

E logo, as pessoas juntaram-se em vol­ta do sábio e gritavam em coro:

“- Queremos, queremos, queremos!”

E então Nasrudin respondeu:

“- Ah! Obrigado, era só para saber. Mas podem ficar tranquilas, pois contarei tudo a vocês caso algum dia descubra algo assim”.

Sempre que sou convidado a pensar ou escrever sobre felicidade, essa parábola ressurge em minha mente e, de certa forma, me ajuda a entender que raras coisas na vida podem vir por sorte ou graça, enquanto outras nos exigem movimento e trabalho. Penso que a felicidade se enquadra nessa se­gunda categoria. E esse é um debate antigo, especialmente dentro da filo­sofia, tanto ocidental quanto oriental.

Para alguns pensadores gregos mais antigos, felicidade seria algo que acontece conosco e não teríamos controle sobre isso. Dependeríamos dos favo­res dos deuses para chegarmos à felicidade. Assim, tudo o que supostamente contribua para nossa sorte de cair nas graças dos deuses, pode ser uma ini­ciativa válida, desde vestir-se de branco, pular sete ondas no mar e comer lentilha na ceia de Reveillon, até fazer uma pro­messa para alcançar uma graça que o deixará feliz.

Por outro lado, outros pensa­dores afirmaram que a verda­deira felicidade viria somente por meio da razão e da vida virtuosa. Para o filosofo estóico Epicteto, felicidade e realiza­ção pessoal são consequências naturais de atitudes corretas, onde o compromisso com o pro­gresso é mais importante que a busca da perfeição. Sua noção de uma boa vida não é seguir uma lista de preceitos, mas le­var nossas ações e desejos a se harmonizarem. A questão não é agir bem para conquistar os fa­vores dos deuses ou a admira­ção dos outros, mas adquirir se­renidade interior e consequen­temente, uma liberdade pesso­al duradoura. Querer mais do que é possível conseguir, assim como ser negligente com seu plano de vida, pode ser fonte de intranqüilidade, frustração e infelicidade. A receita para uma boa vida, segundo Epicte­to, concentra-se em três temas principais: dominar os desejos, desempenhar as obrigações e aprender a pensar com clareza sobre si mesmo e seu relaciona­mento com os outros.

O filosofo francês André Comte-Sponville, escreveu em seu livro “Felicidade Desespera­damente” sobre dois caminhos para a felicidade. O primeiro, e mais comum, é quando deseja­mos algo que não depende de nós, quando contamos com al­gum acontecimento ou alguém que faça acontecer o que de­sejamos. Este é o caminho da esperança, do ato de esperar e frequentemente gera mais frustrações e decepções do que realização. O segundo caminho está em desejar aquilo que de­pende de nós, começando em querer e amar o que se tem. Satisfação pelo que se tem é essencial para a felicidade, pois não devemos perder de vista que o que vivemos no presen­te, em grande parte, deve-se a nossas escolhas e decisões do passado. Com isso, podemos mudar nosso futuro agindo bem agora. Para Sponville, este é o caminho da força de vonta­de e do contentamento.

Matthieu Ricard, autor de “Fe­licidade: a prática do bem es­tar”, deixou sua promissora carreira como cientista para tornar-se monge, fotógrafo e escritor. Suas ideias e reflexões baseadas no conhecimento bu­dista visam nos ajudar a sair de algumas armadilhas do senso comum. Entre elas, de que fe­licidade e prazer são a mesma coisa. Para Ricard, prazer é uma circunstância submetida ao tempo, a coisas e lugares e, portanto, são efêmeras. É co­mum ouvir de mulheres “tudo por um bolo de chocolate, eu ficaria tão feliz”. Para qualquer pessoa, a primeira fatia de um bolo de chocolate é uma de­lícia; a segunda nem tanto; a terceira, talvez, nos deixaria enjoados. O prazer é tempo­rário, é consumido, na medida em que temos a experiência. E isso vale para qualquer coisa, desde a compra de um carro novo até fazer sexo. Prazer e felicidade são coisas bem dife­rentes. Um ato prazeroso gera uma felicidade transitória, mas não a sustenta.

Para o budismo, felicidade tem mais a ver com um estado de bem-estar, um sentimento profundo de serenidade e rea­lização, um estado que susten­ta nossos estados emocionais e, portanto, mais duradouro. Nessa perspectiva, é possível afirmar que podemos sentir e manter um estado de bem es­tar, mesmo quando estamos tristes ou enfrentamos uma adversidade. A felicidade é um estado profundo do Ser, que independe dos acontecimentos favoráveis ou desfavoráveis. Se observarmos uma tempestade em alto mar, o fundo do mar não é afetado pela turbulência da superfície. Um elétron pos­sui a carga negativa orbitando em volta do núcleo, enquanto neste, habitam apenas as car­gas positivas ou neutras.

Meditação é uma prática que nos ajuda a cultivar esse esta­do, a construir profundidade na vida, a distinguir o superfi­cial e efêmero do relevante e essencial. Aprender a manter em nosso centro um estado de serenidade, força, liberdade in­terior, confiança e positividade ajuda a construir bem-estar e uma felicidade independente das circunstâncias.

Se nos apoiarmos em nossa própria experiência, é fácil per­cebermos quais são os estados internos que nos afastam e aqueles que nos aproximam da felicidade. Raiva, inveja, ódio, arrogância, desconfiança e ga­nância nos afastam do bem­-estar, porque não deixam uma boa sensação depois que os experimentamos, além de ge­rar impactos negativos para a felicidade dos outros. Por outro lado, ações de generosidade, confiança, compaixão e amiza­de deixam uma sensação muito agradável, tanto para a pessoa quanto para os outros.

“- Olha como o Fulano me irrita” ou “- Apesar desse comportamen­to repulsivo, aprecio como Fulano é cuidadoso com seu trabalho”. Podemos escolher levar a vida sendo vítimas das circunstâncias ou protagonizar os acontecimentos, exerci­tando nosso poder de escolha.

Outra forma de ver é pensar que cada um de nós tem duas vidas. Uma externa, obje­tiva e material e outra interna, subjetiva, espiritual. Nossa vida externa está associa­da aos papéis que exercemos no cotidiano. Eu, por exemplo, sou pai, marido, profis­sional, amigo, filho, irmão. Cada papel tem seus deveres, suas exigências. Também podemos nos submeter a certa pressão para sermos excelentes em cada um des­ses papéis, tanto as pressões procedentes das pessoas com quem nos relacionamos, quanto as pressões internas que impomos a nós mesmos. Mas a experiência confirma que quanto mais expectativas alimentar­mos com acontecimentos e pessoas, quan­to mais meu bem estar e realização depen­derem da aprovação dos outros, menor será minha felicidade.

Por outro lado, a vida interna envolve a relação que temos com nosso íntimo, com o como nos relacionamos com nos­sas emoções, pensamentos, crenças, valores e, sobretudo, como nos posicio­namos diante das experiências da vida. Acredito que a qualidade da vida interna viabiliza a qualidade da vida externa. En­tendo que a felicidade é viável por meio de uma vida integra e coerente. O equi­líbrio na vida envolve priorizar o que re­almente é importante, perseguir nossos objetivos com foco e serenidade, ser uma pessoa suave, leve. É possível lutar pela promoção com respeito ao outro, exercitar a tolerância com as pessoas, fazer o que se deseja ou precisa ser fei­to, sem expectativas exageradas pelos resultados. A intranquilidade vinda dos exageros nos afasta da felicidade.

Que essas reflexões lhe ajudem a ser cada vez melhor. Felicidades!

Artigo publicado em 12/06/2017
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